Tiros contra a democracia para impedir as eleições

Tiros contra as eleições –

Por Alex Solnik, no 247 – 

Os três atentados políticos deste ano – Marielle, tiros nos ônibus e tiros no acampamento – têm o mesmo objetivo dos atentados do passado: querem impedir a continuação da , querem impedir as .

Os jornais de oposição à militar, os chamados nanicos, começavam a incomodar; ensaiavam fazer sucesso nas bancas; o Ex-, de , vendia 30 mil exemplares; o “Repórter”, no Rio, vendeu 100 mil jornais no ; crescia a imprensa que furava a cortina da censura.

O regime reagiu dentro das leis que criou. Dificultava ao máximo a produção. Matérias e fotos tinham que ser submetidos à censura, em . Nada disso, porém, desanimava aos jornalistas e aos leitores.

Tudo foi nessa toada até estourarem as primeiras bombas nas bancas acompanhadas de recados: é pra não vender jornal nanico.

A polícia não investigou, nem precisava. Em 1981, uma bomba estourou no colo de um capitão do Exército dentro de um carro, no estacionamento do Riocentro, onde se realizava um show de Primeiro de Maio em protesto contra a ditadura.

Às vésperas de Primeiro de Maio de 2018 tiros disparados contra o acampamento de apoio a evocam os episódios daqueles atentados.

O que pretendiam aqueles setores da linha dura do Exército estourando bancas de jornais e shows de artistas de era impedir a abertura do regime rumo às eleições, era a continuação da ditadura, cujo fim se aproximava.

Os três atentados políticos deste ano – Marielle, tiros nos ônibus e tiros no acampamento – têm o mesmo objetivo dos atentados do passado: querem impedir a continuação da democracia, querem impedir as eleições.

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ANOTE AÍ:

Matéria original: https://www.brasil247.com/pt/blog/alex_solnik/353003/Tiros-contra-as-elei%C3%A7%C3%B5es.htm

ALEX SOLNIK Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais “Porque não deu certo”, “O Cofre do Adhemar”, “A guerra do apagão” e “O domador de sonhos”

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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