Trabalho análogo à escravidão registra 2,5 mil resgates em 2023, o maior em 10 anos

análogo à escravidão registra 2,5 mil resgates em 2023, o maior em 10 anos

Além disso, a “lista suja” de empregadores envolvidos no crime teve a maior atualização da , com 204 nomes adicionados, totalizando 473 pessoas físicas e jurídicas.

Por Redação/Mídia Ninja

A criação do Grupo Especial de Fiscalização Móvel (GEFM) foi um marco importante na contra o trabalho escravo no Brasil, mas recentes indicadores mostram uma séria deterioração da situação. Até 3 de outubro de 2023, 2.592 vítimas foram libertadas, marcando um recorde para o período nos últimos dez anos, de acordo com o Ministério do Trabalho, em um levantamento divulgado pelo Valor.

Além disso, a “lista suja” de empregadores envolvidos no crime teve a maior atualização da história, com 204 nomes adicionados, totalizando 473 pessoas físicas e jurídicas.

Especialistas consultados pela jornalista Liane Thedim apontam diversas causas para essa piora, incluindo o aumento da agravada pela pandemia, a expansão da terceirização facilitada pela reforma trabalhista, a baixa taxa de punição de infratores e a retomada firme das fiscalizações. A reincidência é um problema sério, pois os libertados muitas vezes não têm outras opções e caem novamente em situações de .

A socioeconômica aumentou a vulnerabilidade das pessoas, tornando-as mais propensas a cair nas armadilhas do trabalho escravo. A situação é tão grave que o Brasil voltou ao mapa da fome da ONU em 2018, com um aumento constante no número de pessoas em situação de insegurança alimentar grave.

Para combater o problema, especialistas enfatizam a importância de tornar obrigatória a “devida diligência”, que exige que as empresas identifiquem, previnam, mitiguem e respondam por danos relacionados aos e ao em toda a sua cadeia produtiva. O Brasil precisa desenvolver seu próprio marco regulatório nesse sentido.

A revisão do Plano Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo, iniciada em agosto, concentra-se em três áreas de atuação: prevenção, e reinserção. A reinserção dos trabalhadores libertados é um ponto crítico, pois quebra o ciclo de revitimização.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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