Transgênicos: Lavouras viram pragas delas mesmas

Transgênicos: Lavouras viram pragas delas mesmas

O uso generalizado de sementes geneticamente modificadas, especialmente de e milho, está provocando nova mutação perversa, dentre as tantas já comprovadas. As lavouras desses dois produtos, que se revezam nas mesmas áreas de plantio, estão virando pragas delas mesmas, em quase todo o território nacional.

O fenômeno era previsível, quase óbvio, de simples explicação. Quando colhidos, os pés de grãos transgênicos deixam pra trás suas e sementes que caíram na , mas elas não morrem quando é aplicado o veneno (herbicida) que mata as outras vegetações que brotam, consideradas pragas.

Assim, por exemplo, a soja colhida na última safra rebrota no meio do milho recém-plantado na chamada safrinha de outono e inverno, causando uma série de problemas, com redução na produtividade da lavoura. E quem mais perde é o produtor adepto desse tipo de .

No entanto, até agora as multinacionais produtoras dessas sementes, com a ianque Monsanto na dianteira, não têm solução a oferecer, e sugerem que a Embrapa se encarregue do assunto. De modo que a estatal brasileira de pesquisas é chamada a corrigir um erro que tentou evitar quando da introdução da transgenia no país, duas décadas atrás.

Vale lembrar que a empresa criou a soja tropical, que permitiu o cultivo deste feijão nas demais regiões, além do Sul, onde as condições climáticas eram apropriadas. Hoje, é plantada inclusive em Rondônia, Mato Grosso e Pará, em áreas onde havia floresta amazônica.

Mas isto sem a aplicação da engenharia genética, de uso bastante restrito na Europa e completamente proibido no Japão, por seus efeitos danosos à natureza e à humana. A FAO e a OMS, organismos das Nações Unidas (ONU) ligados à agricultura, alimentação e saúde têm severas restrições ao seu emprego.

Uma coisa é a adaptação de vegetais e a novos ambientes, com climas, solos e regimes de águas diferentes, como ocorre com frequência. Outra, muito outra, é sua modificação por meio de organismos geneticamente modificados (OGMs), os transgênicos, que transportam genes de um lugar pra outro, com cargas de bactérias e vírus em seu interior.

Os efeitos dessa transferência, especialmente no organismo humano, ainda são pouco conhecidos da ciência. Porém, quando mais se conhece, mais se constata que são provocados mais danos do que benefícios. Por isso, as restrições impostas.

O caso da batata transgênica na Europa é exemplar. Após uma década de proibição, alguns países, como a Alemanha, permitiram seu cultivo, mas não como alimento, nem mesmo de animais. É usada apenas na produção de papel, celulose e produtos têxteis.

O fato é que as modificadas têm a capacidade de produzir substâncias em tese mais resistentes a e larvas, por exemplo. O problema é que essas lavouras contaminam com seus genes, de diversas formas, os ambientes das proximidades, matando muito do que houver por ali, inclusive , borboletas e outras plantas que não são daninhas.

Até recentemente, os “fabricantes” das sementes transgênicas diziam que os genes introduzidos agiam apenas sobre uma parte das plantas. Agora, no entanto, já se comprova que afetam a toda, inclusive os talos que ficam após a colheita e rebrotam como ervas daninhas super-resistentes aos próprios herbicidas.

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!