Mais um negro fuzilado no Rio
Um carro estraçalhado por 80 tiros e mais um negro fuzilado no Rio. #VidasNegrasImportam?
“Por que o quartel fez isso? Eu disse, amor, calma, é o quartel. Ele só tinha levado um tiro, os vizinhos começaram a socorrer. Eu ia voltar, mas eles continuaram atirando, vieram com arma em punho. Eu coloquei a mão na cabeça e disse: ‘Moço, socorre meu esposo’. Eles não fizeram nada. Ficaram de deboche. Tem um moreno que ficou de deboche e rindo”, relatou a técnica em enfermagem Luciana dos Santos Nogueira” – Luciana Nogueira, no Brasil 247.
Era só uma família, a família do músico negro Evaldo dos Santos Rosa, de 51 anos, a caminho de uma festa familiar numa tarde de domingo, a caminho de um chá de bebê na tarde do dia 7 de abril de 2019.
Aí vieram os tiros. Segundo peritos da Delegacia de Homicídios, ao menos 80 disparos foram feitos pelo Exército na região da Vila Militar, em Guadalupe, na Zona Oeste do Rio, deixando um pai de família morto e duas pessoas feridas, incluindo o sogro de Evaldo, que precisou ser hospitalizado. Também estavam no carro uma amiga da família, a esposa Luciana e o filho de Evaldo, de apenas sete anos, que não se feriram.
Segundo o delegado Leonardo Salgado, da Delegacia de Homicídios da Capital, houve dificuldade de perícia no local por parte dos militares, por conta da revolta dos moradores e das moradoras da região que presenciaram o crime.
De acordo com os primeiros relatos, os militares provavelmente atiraram por engano contra a família. O Comando Militar do Leste (CML) primeiro negou ter atirado contra uma família e disse ter respondido a uma “injusta agressão” de “assaltantes”. À noite, em outra nota, p CML informou que o caso estava sendo investigado pela Polícia Judiciária Militar com a supervisão do Ministério Público Militar.
Porém, a amiga da família, que estava dentro do carro, contestou a versão do Exército. Ela afirma que os militares não fizeram nenhuma sinalização antes de abrir fogo contra o carro. “Eu não vi onde foi o tiro, mas eu acho que foi nas costas. Primeiro, nós pensamos que ele tinha desmaiado ao volante.”
“Tinha um morador passando aqui na hora, que tava aqui no meio, foi tentar ajudar o padrasto e também foi atingido no peito”, afirmou a amiga, que estava indo junto com a família a um chá de bebê (…) A gente saiu do carro, eu corri com a criança e ela também. A gente saiu do carro, e mesmo assim eles continuaram atirando “, disse a amiga, por telefone, à TV Globo.
Nesta segunda-feira, 8, Akemi Nitahara, repórter da Agência Brasil, fez a seguinte atualização sobre o crime:
“A família do músico Evaldo dos Santos Rosa, de 51 anos, foi nesta segunda-feira (8), no final da manhã, ao Instituto Médico-Legal (IML), no centro do Rio de Janeiro, para liberar o corpo. Ele foi morto em uma operação do Exército, em Guadalupe, na zona oeste da cidade, na qual o carro em que estava foi atingido por mais de 80 tiros de fuzil.
Em estado de choque, a técnica em enfermagem Luciana dos Santos Nogueira, viúva de Evaldo, disse que a família passava pelo local onde houve a operação com frequência e que sentiu-se segura ao observar a presença do Exército.
“Por que o quartel fez isso? Eu disse, amor, calma, é o quartel. Ele só tinha levado um tiro, os vizinhos começaram a socorrer. Eu ia voltar, mas eles continuaram atirando, vieram com arma em punho. Eu coloquei a mão na cabeça e disse: ‘Moço, socorre meu esposo’. Eles não fizeram nada. Ficaram de deboche. Tem um moreno que ficou de deboche e rindo.”
Ante tamanha violência, fica a pergunta da negra Marielle Franco, assassinada em 14 de março de 2018: “Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe?”
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