Por Aloizio Mercadante via Brasil 247
Diante do esfacelamento do apoio popular ao seu governo e do avanço da rejeição ao seu nome, Bolsonaro vem tentando, desde o fim do ano passado, uma série de iniciativas visando o pleito de outubro próximo. Mas, medidas importantes como o reajuste de 10% no salário mínimo, o auxílio emergencial de R$ 400, que nada mais é que uma versão piorada do Bolsa Família, e o Vale Gás, que foi uma iniciativa da bancada do PT, não tiveram impacto nas pesquisas de intenção de votos.
A verdade é que o negacionismo em relação à vacina, a volta da pandemia, a completa incapacidade de gestão, a estagnação econômica, a inflação de dois dígitos, a elevação do custo de vida – especialmente o custo dos alimentos, dos combustíveis e da energia e a taxa de juros, que é uma das maiores entre as economias desenvolvidas, deixam pouca margem para que Bolsonaro apresente uma melhora econômica relevante para a disputa eleitoral.
O país precisa retomar uma política estratégica para a Petrobras com foco no investimento no refino e em um sistema integrado de produção, distribuição e comercialização, que gerem ganho e competitividade em relação a outras economias. Depois dos nossos governos, a Petrobras se tornou exportadora de óleo cru e importadora de produtos acabados, pressionando a fortemente a inflação e o custo de vida.
Outra questão é o desmonte do MDA e fim das políticas de apoio à agricultura familiar. O desmantelamento do Pronaf e do PAA comprometeu a área plantada de produtos básicos como arroz, feijão e mandioca. Ademais, o fim dos estoques reguladores aumenta a pressão sobre o custo dos alimentos e aumenta a fome.
Sem falar no esvaziamento do BNDES, a ausência de uma política de reindustrialização do país e de impulso a ciência a tecnologia e a inovação. A política de desmatamento do desgoverno Bolsonaro gera um isolamento profundo do Brasil no concerto das nações. Segundo o Ipam, houve uma explosão do desmatamento em terras públicas federais na Amazônia no governo Bolsonaro. De 2019 até 2021, mais de 32 mil km² de floresta devastadas, 21 vezes o tamanho da cidade de São Paulo.
O fato é que quem tem um legado portador de futuro, quadros experientes na gestão e na formulação de um diagnóstico preciso sobre os grandes desafios que se apresentam, que se opõe a toda essa barbárie bolsonarista e que é a esperança do povo é o ex-presidente Lula. Por isso, Lula lidera todas as pesquisas e amplia as alianças para a reconstrução do Brasil.
Aloizio Mercadante é economista, professor licenciado da PUC-SP e Unicamp, foi Deputado Federal e Senador pelo PT (SP), Ministro Chefe da Casa Civil, Ministro da Educação e Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação. Foto interna: acompanha a publicação original. Capa: RD1. Este artigo é de responsabilidade de seu autor.
Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.
Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.
Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.
Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.
Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.
Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.
Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.
Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.
Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.
Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.
Zezé Weiss
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