GISNO

UMA TEIA SUSTENTÁVEL DE ECOLOGIA E CIDADANIA NOS JARDINS DO GISNO, COLÉGIO DA ASA NORTE DE BRASÍLIA

GISNO sustentavel

O que se andar, o que crescer
Se já conheço eu quero é mais (…)
A é hoje, o sol é sempre
Se já conheço eu quero é mais”
Teia de Renda –

 

Brasília tem lá seus mistérios, suas pequenas e fascinantes maravilhas. Há pouco tempo encontrei uma delas ali na 907 Norte, no quintal do Colégio Educacional Gisno, uma das melhores escolas públicas da capital federal.

Coisa rara por essas paragens, o Colégio mantém uma espécie de quintal verde em uma área de Cerrado preservada. É lá que a pedagoga Ana Karina Machado Moreira desenvolve, com um pequeno grupo de estudantes – cerca de 15, dos mais de 1500 da escola, o Teia, um ecológico promissor de formação de jovens multiplicadores para a defesa do meio ambiente e da qualidade de vida.

Entusiasmada, Ana Karina conta que o grupo, formado majoritariamente por jovens mulheres (11 de 15) entre 13 e 17 anos, começou como um projeto de agrofloresta com o nome de Agrogisno e vem cada vez mais se dedicando à permacultura. Agora em 2018, o grupo optou pelo nome Teia, porque “em sua trajetória vai engajando apoios, consolidando parcerias e expandindo horizontes,” diz a professora.

Junto com o novo nome, vieram também elementos novos, incorporando, segundo o descritivo do projeto, que nos foi fornecido pela escola, os princípios básicos da permacultura: técnicas sustentáveis de vida, um novo modelo ético na organização coletiva, e um novo sistema de da escala humana, “centrados no cooperativismo e no espírito de coletividade, capazes de nos levar não apenas à abundância, mas também à paz e à harmonização com o no nosso próximo e com o meio ambiente em que vivemos”.

Para a estudante Thaís Rodrigues, o projeto é bom não só para a escola, mas também para as pessoas fora dela, porque “melhora a qualidade de vida da população e faz com que possamos viver de uma forma mais sustentável”. Thaís destaca a importância da participação do Teia na Feira de Ciências: “porque tivemos a oportunidade de mostrar nosso para a escola toda, com isso conseguimos mais pessoas interessadas no projeto”.

O endosso vem também de familiares: Para Andrea Prado, de um aluno do nono ano, “o projeto tem sido uma ponte para os alunos se aproximarem das questões socioambientais, fundamental para que se desenvolvam como cidadãos”. Opinião corroborada por Antonio Brito, pai de uma aluna do 1º ano: “ao procurar saber como poderia me integrar na escola, fiquei surpreso ao me deparar com o projeto de agrofloresta e permacultura”.

Enquanto vai preparando a terra para os plantios coletivos da chegada das águas, a turma do Teia também conta com o apoio do docente do Colégio. Natália Rangel, professora de Inglês, recém-ingressada nos quadros do Gisno, diz que se interessou em colaborar com o projeto e justifica: “porque acredito que a escola precisa trazer vivências e a importância de uma postura sustentável. Além disso, acredito que o relacionamento aluno/professor deve ir além da sala de aula, e projetos como esse possibilitam trabalhar a e paz na escola através da colaboração e do espírito de comunidade e equipe”.

Da mesma forma, Thaís Lobo Junqueira, mestra em Linguística, conta que conheceu o projeto em 2017, quando estava na Fase I e ainda se chamava AgroGisno. Em 2018, apresentou o projeto a um grupo de pesquisadores da UnB, o Núcleo Autonomia, ao qual pertence. “As professoras da UnB estão entusiasmadas com o resultado desse projeto, que agora se chama Teia, e querem colaborar de alguma forma com a escola.”

É dessa soma de apoios e parcerias que, segundo Ana Karina, vai se forjando a teia que garante o fortalecimento do projeto. “Contamos com apoio do Ipoema; da Chácara Asa Branca; do Núcleo Autonomia da UnB; do IFB; do Sinpro; do Viveiro do Lago Norte; do Grupo de Escoteiros; da Ecovila Nós na Teia; do grupo Maria da Penha Resiste; da Emater; da Novacap; da comunidade de pais, professores e alunos do Gisno”.

Assim, entre aulas de campo sobre técnicas de compostagem, agrofloresta e permacultura, Ana Karina, Bernardo, Diogo e Cristine, professores responsáveis pelo projeto Teia no Centro Educacional Gisno, vão garantindo espaço para a realização de como o da aluna Jamile, que quer um dia levar o que aprendeu em Brasília para as distantes aragens de sua terra natal, no Pará.

Nosso sonho maior é ampliar nossa rede, fortalecendo cada vez mais os laços que vamos forjando nessa nossa solidária teia ecológica e cidadã”, completa Ana Karina Machado Moreira, a pedagoga que faz a diferença no projeto do Gisno.

zeze 1
Jornalista Socioambiental
@zezeweiss

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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