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Anita Garibaldi: “heroína dos dois mundos”

ANITA GARIBALDI: HEROÍNA DOS DOIS MUNDOS

Anita Garibaldi: “heroína dos dois mundos”

Há um dito popular que afirma ser agosto o mês do desgosto. Eu digo ser o mês do meu gosto, pois valorosas pessoas nasceram neste mês, entre elas, a valente Ana de Jesus Ribeiro, mais conhecida como Anita Garibaldi.

Por Iêda Vilas-Bôas

e companheira do revolucionário Giuseppe Garibaldi, nasceu em Laguna, hoje Tubarão, em Santa Catarina, em 30 de agosto de 1821 e morreu em Ravena, Itália, em 04 de agosto de 1849.

Descendente de portugueses imigrados dos Açores com paragem na província de Santa Catarina, ainda no século XVIII, era a terceira filha, de um total de 10 filhos, de uma família modesta, sendo o pai Bento comerciante e a mãe Maria Antônia de Jesus do Lar.

Corajosos e avançados para o , seus pais davam às 6 meninas quase que igual tratamento dado aos 4 meninos. As atividades domésticas eram repartidas igualitariamente entre todos. Entretanto, a morte ceifou cedo o patriarca, e Anita, prematuramente, teve que ajudar no sustento familiar.

Assim, sua mãe, pensando no futuro da bela Anita, insistiu com um casamento aos 14 anos, também realizado em agosto, com Manuel Duarte de Aguiar. Depois de três anos de matrimônio, o marido alistou-se no exército imperial deixando-a abandonada à sorte e só.

Um dia, aparece em Laguna Giuseppe Garibaldi, o seu príncipe. Lindo, corajoso, valente, audacioso, conquistador, Garibaldi rouba de Anita o coração. Ela tinha 18 e ele 32 anos. Eles se apaixonaram e ela decidiu acompanhar seu amor e lutar pela independência gaúcha e de outros territórios.

Giuseppe e Anita ficaram juntos pelo resto da vida de Anita, que o seguiu em seus combates em Santa Catarina, , Uruguai (Montevidéu) e Itália. Estava traçada sua sina: viveria e morreria lutando pela independência, contra o imperialismo e contra todas as espécies de injustiças sociais de seu tempo – não muito diferentes das de agora.

Anita seguiu ao lado de seu amor e líder revolucionário, e com ele lutou na Revolução Farroupilha, aqui no e contra a invasão do exército austro-húngaro, na Itália. Vem daí o nobre adjetivo de Heroína de Dois Mundos, dois continentes: o Europeu e o Americano.

Mesmo durante as cinco vezes em que esteve grávida, jamais deixou seu companheiro “pelear” sozinho. Esteve sempre do seu lado, nas vitórias e nas derrotas. O próprio Garibaldi relata em suas o encontro com Anita, para toda a vida:

“Entramos, e a primeira pessoa que se aproximou era aquela cujo aspecto me tinha feito desembarcar. Era Anita! A mãe de meus filhos! A companhia de minha vida, na boa e na má fortuna. A mulher cuja coragem desejei tantas vezes. A saudei e lhe disse: ‘Tu deves ser minha! Havia atado um nó, decretado uma sentença que somente a morte poderia desfazer.”

Assim, embarcam Anita e Garibaldi, em outubro de 1839, para uma expedição militar. A prova de fogo veio rápida, a Marinha Imperial do Brasil ataca o navio de Giuseppe e Anita confirma sua coragem, arriscando a vida nesta, na famosa batalha naval de Laguna e ainda em inúmeras que ela e Garibaldi haveriam de enfrentar.

Aprisionada em 1840, na Batalha de Curitibanos, para fugir da prisão, convenceu o comandante do exército imperial que precisava reconhecer o corpo de seu esposo, morto em campo de batalha.  Aproveitando-se de um instante de distração dos guardas, fugiu em seu cavalo, enfrentou a travessia do Rio Canoas e, em oito dias, encontrou-se com Garibaldi no Rio Grande do Sul.

Ao chegar, causou enorme espanto, pois sua morte havia sido largamente anunciada pelos rincões gaúchos. O que se propalou, então, na crendice popular, foi que ela tinha ressuscitado, o que ampliou em muito a mística que já existia em torno do nome de Anita.

Logo após o nascimento de seu primeiro filho, Menotti, o exército imperial cercou a casa em que a família estava. Anita, com somente doze dias após o parto, toma nos braços o pequenino e, por quatro dias, se esconde em um bosque nos arredores da cidade, até ser resgatada por Giuseppe.

Em 1841 a situação militar da República Rio-Grandense tornou-se insustentável. Faltavam alimentos, contingente e motivação. O General Bento Gonçalves concede a Garibaldi permissão para deixar as fileiras do exército republicano.  Anita, Giuseppe e Menotti mudam-se para o Uruguai.

Em Montevidéu, dois anos e meio após seu encontro fulminante de amor, os dois se casam na igreja de São Francisco de Assis, em 1842. Foi uma decisão . O casamento era uma exigência para ocupar cargo público e Giuseppe havia sido indicado para o comando da pequena frota uruguaia.

No Uruguai, tiveram mais três filhos: Rosa (falecida aos dois anos de idade), Teresa e Ricciotti. Em 1846, Garibaldi tenta enviar Anita e as crianças para perto de sua mãe, na Itália. Seu pedido foi recusado. Dois anos depois, Anita e seus filhos partem em um barco com destino a Nice. Alguns meses depois, Garibaldi se junta à família.

O desejo de construir um mundo livre das injustiças sociais impelia o casal a continuar nas batalhas. Em 1849, os dois presenciaram a proclamação da República Romana, porém a alegria foi de curta duração. O exército franco-austríaco invadiu e dominou e, uma vez mais, o casal deixou a cidade perseguido por três exércitos (francês, espanhol e napolitano), com quarenta mil soldados. Seguiram rumo Norte com um contingente de 3.900 soldados e deram de frente com quinze mil soldados austríacos.

Grávida do 5º filho, com Giuseppe, Anita entrou na guerra para salvar o território italiano.  Fraca e ferida, teve que refugiar-se em San Marino. Seu estado de piora e ela, quase inerte, propõe-se a retornar sozinha para perto de seus filhos. Giuseppe não aceita e a acompanha a uma fazenda próxima a Ravena, onde ela falece. Inconsolável, Garibaldi sequer pode ir ao seu sepultamento. Saiu em exílio e por dez anos esteve fora.

Anita Garibaldi é considerada, no Brasil e na Itália, como exemplo de dedicação e coragem. Seu nome passou a designar cidades, bairros, ruas e avenidas. Em 2012, através de lei, seu nome foi inscrito no Livro dos Heróis da Pátria, depositado no Panteão da Liberdade e da Democracia, em .

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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