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Trump apodera-se do petróleo venezuelano

Trump apodera-se do petróleo venezuelano

“O problema é que esses esforços por parte dos de mudar os governos de outros países frequentemente levam à catástrofe”

Por Jessica Corbett/ Maior 

O governo Trump intensificou sua interferência na politicamente fraturada Venezuela na segunda-feira, ao anunciar o apoderamento de bilhões de dólares em recursos ligados à empresa estatal petroleira do país, uma jogada que críticos denunciaram como sendo parte da “perigosa” dos EUA para ajudar as forças de oposição a derrubar o presidente eleito Nicolás Maduro.

O Conselheiro de Segurança Nacional John Bolton e o Secretário do Tesouro Steven Mnuchin anunciaram as sanções impostas através de uma ordem executiva contra a Petroleos de Venezuela, S.A. (PdVSA) — uma fonte primária de renda e de moeda estrangeira para o país — em uma coletiva de imprensa na Casa Branca na segunda-feira à tarde. Eles estavam acompanhados por Larry Kudlow, diretor do Conselho Econômico Nacional.
Mnuchin prometeu que os Estados Unidos “continuarão a usar todas as nossas ferramentas diplomáticas e econômicas” para apoiar Juan Guaidó, que se autodeclarou “presidente interino” da Venezuela. O secretário deixou claro que “o caminho para o alívio das sanções sobre a PdVSA é uma imediata transferência de controle ao presidente interino ou a um subsequente governo democraticamente eleito.”

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A CNBC reportou:
Mnuchin disse que a PDVSA há muito tem sido um meio para roubo e corrupção por parte de autoridades e homens de negócios. As sanções evitarão que a riqueza em petróleo da nação seja desviada para Maduro, e somente serão removidas quando seu regime passe o controle da PDVSA ao governo de um sucessor, adicionou ele.
[…]
Sob as sanções, os EUA continuam a comprar o petróleo venezuelano, mas os pagamentos serão retidos sem poderem ser acessados pelo regime de Maduro.
“Se o povo da Venezuela quiser continuar a nos vender petróleo, enquanto o dinheiro vai para contas bloqueadas, nós continuaremos a comprá-lo”, disse Mnuchin. “Caso contrário, não vamos mais comprar.”
Além de aumentar as restrições econômicas ao governo de Maduro como uma forma de fortalecer a posição de Guaidó, Bolton também emitiu uma nova ameaça de ação militar ao dizer aos repórteres na sala de briefing da Casa Branca que Trump “deixou claro que todas as opções estão disponíveis” em relação a possíveis novos passos.
“Isto é muito perigoso”, advertiu Jeffrey D. Sachs, mundialmente renomado professor de e conselheiro veterano da ONU, na CNN na segunda-feira à tarde. Ele expressou a preocupação de que as ações do governo possam causar um imenso sofrimento ao povo venezuelano, semelhante às consequências suportadas pelos cidadãos de outros países sujeitos a intervenções dos EUA.
“O problema é que esses esforços por parte dos Estados Unidos de mudar os governos de outros países frequentemente levam à catástrofe”, observou Sachs, “assim como aconteceu por todo em anos recentes.”
“Muito frequentemente Washington diz: ‘alguém tem que sair,'” continuou ele. “E é assim que nossa política externa frequentemente funciona — é muito arrogante [dizer] quem deveria governar em outro país. A propósito, Maduro não é um homem decente e agradável — mas por outro lado, Washington simplesmente anunciar que um político autodeclarado é o presidente, é seguir o tipo de de mudança de regime por parte dos EUA.”
Mantendo esta tradição, uma reportagem do Wall Street Journal publicada na semana passada revelou que a tentativa de golpe de Guaidó foi altamente dirigida por autoridades do governo Trump e legisladores do Partido Republicano. Um punhado de outras nações, incluindo Israel e o Brasil, também está apoiando Guaidó, e em um discurso frente ao Conselho de Segurança da ONU no sábado, o Secretário de Estado dos EUA Mike Pompeo insistiu para que outros sigam o exemplo.
Especialistas e uns poucos membros progressistas do parlamento dos EUA, enquanto isso, reconheceram as crises econômica e política na Venezuela mas também demandaram que o governo Trump abstenha-se de intervir através de ações militares e sanções.
“Em vez de uma mudança de regime liderada pelos EUA, os dois lados precisam compartilhar o poder temporariamente, até que ocorram novas eleições, talvez em 2021. Parece inconcebível, apesar de que a mostra que pode ser feito”, cobrou Sachs em uma coluna para a CNN no domingo, citando a transição da Polônia para a em 1989 como um exemplo. Ele delineou:
Um meio-termo desse tipo manteria Maduro como presidente, os militares teriam os Ministérios da Defesa e do Interior, e as forças de oposição teriam os ministérios civis e o Banco Central da Venezuela. Guaidó ou algum outro líder do campo da oposição agiria como um primeiro-ministro, liderando o gabinete civil, e guiando as políticas econômicas venezuelanas. As eleições seriam marcadas para ocorrer em 2021 ou 2022, talvez sob um sistema semiparlamentar nessa época.
“Os EUA em vez disso parecem estar visando uma mudança de regime e endurecendo as sanções para fazer Maduro cair”, concluiu Sachs. “Este resultado talvez seja viável, apesar de deixar um muito amargo. O mais provável de ocorrer, entretanto, é a geração de mais violência e o aumento da econômica, possivelmente levando à guerra.”
Publicado originalmente em commondreams| Tradução: equipe Carta Maior
Fonte: Carta Maior

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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