A volta da Casa Grande
Nestes tempos bicudos, centenas de milhares de pessoas saíram às ruas, com bandeiras dos mais diversos matizes. Parte delas defendendo propostas antidemocráticas, em que pediam a derrubada da presidente, chamadas por um movimento atrelado à luta contra a corrupção, ancorado na chamada Operação Lava-Jato, processo que entrou no ventre da Petrobras, empresa brasileira em que a participação do segmento de petróleo e gás natural no PIB (Produto Interno Bruto, que mede a soma de riquezas produzidas no país) aumentou de 3%, em 2000, para 12%, em 2010, e chega a 13%, nos dias de hoje.
O Brasil já viveu na sua história momentos de histeria iguais a estes. Todos eles conduzidos pelas oligarquias nacionais e por interesses de grupos internacionais de várias tendências e, hoje, a serviço do projeto de dominação do Consenso de Washington.
A história contemporânea mostra que foi assim no pós-guerra, na democratização, quando o Partido Comunista Brasileiro foi legalizado e, nas eleições gerais de 1946, conseguiu eleger uma bancada de 14 deputados federais e um senador, causando perplexidade nos setores conservadores, que viam nisto um perigo iminente contra os seus interesses.
Em 1950, a volta de Vargas ao poder, com o seu projeto de cunho trabalhista e desenvolvimentista, foi o estopim para os grupos conservadores pressionarem o governo até levá-lo ao suicídio.
Com a ascensão de João Goulart em 1961, o projeto de reformas foi determinante para as elites, especialmente dos militares, para desfechar o golpe de Estado que tiraria, em 1º de abril de 1964, o presidente do poder. O movimento encerrou o ciclo das tão almejadas reformas de base (mesmo no âmbito do capitalismo, levariam o país na direção de uma sociedade socialmente justa) e estabeleceu uma sangrenta ditadura militar no país.
Com o fim do regime militar, a eleição de um sindicalista metalúrgico para presidente da República e a eleição da primeira mulher para presidente, com dois mandatos consecutivos, provocou a ira da oposição. Mais uma vez, as oligarquias brasileiras se manifestam de forma golpista, e passam a fomentar a derrubada do governo democraticamente eleito, com apoio da mídia conservadora, que exerce domínio absoluto na informação brasileira.
As últimas manifestações mostraram o caráter da elite brasileira. A turba representante da Casa Grande vociferava palavras de ordem, que iam desde ofensas pessoais à presidente até pedidos de volta dos militares ao poder. Atacavam todas as medidas dos governos Lula/Dilma que representassem avanços culturais e sociais, numa demonstração de que vivemos uma crise civilizatória de consequência imprevisível.
Em Brasília, alguém – que se diz professor de história –, empunhava uma faixa contra o cientista da educação brasileira, professor Paulo Freire, reconhecido mundialmente pelo seu método revolucionário de alfabetização.
Assim, nós que pensamos a educação como uma proposta de oposição a esta realidade contrária ao ensino como prática da liberdade ficamos preocupados com os rumos que a elite opressora e patrimonialista, que reflete os conceitos de dominação da Casa Grande à Senzala, pretende dar ao País.