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Xinã Bena: Um novo tempo, o tempo da cultura… o tempo de ‘novos espelhos’...

Xinã Bena: Um novo tempo, o tempo da cultura… o tempo de ‘novos espelhos’…

Xinã Bena: Um novo tempo, o tempo da cultura… o tempo de ‘novos espelhos’…

Por Dedê Maia 

Fui apresentada aos Huni Kuin, também conhecidos como , no final da década de 70, pelo antropólogo Terri Valle de Aquino, meu querido Txai Terri, com quem iniciei meu caminhar pelas aldeias do *, e meu como pesquisadora .  A maior parte dele, realizado entre famílias Huni Kuin, de diferentes Terras, de diferentes aldeias.

A primeira delas foi entre as famílias Kaxinawá do rio Humaitá. Esta experiência está no meu livro “Viagens pelos Rios do Interior”**, organizado primeiramente pela minha filha Teti Coube e editado pelo meu amigo Jairo Lima, a ser lançado brevemente. No entanto foi entre as famílias Kaxinawá da Terra Indígena Kaxinawá do Rio Jordão – Município de Jordão, no Acre, que dediquei a maior parte do meu trabalho.

A Terra dos Huni Kui do Jordão está localizada numa das regiões do estado mais rica em sua : O Vale do Juruá, Amazônia Ocidental.  Essa região abriga o maior número de povos indígenas da amazônia acreana.

‘Kaxinawá’ (Povo Morcego) foi um nome dado pelos nawá, ou ‘brancos’, pois,  Huni Kuin é o de origem, e significa ‘gente verdadeira’. Organizam-se socialmente em dois grandes clãs: Inu Bakê e Inãni Bakê e Dua Bakê e Banu Bakê. Este povo habita doze terras indígenas, em diferentes regiões do Acre, com uma população estimada em dez mil pessoas, considerada a maior população indígena do estado do Acre. Falam a melódica língua chama por eles de hãtxa kuin, a ‘língua verdadeira’.

Xinã Bena: Um novo tempo, o tempo da cultura… o tempo de ‘novos espelhos'...

Entre este povo, trilhei muitos caminhos… Subi e desci muitos rios… Aprendi na floresta “navegar”, ouvindo histórias do seu passado alegre e cheio de muitas sabedorias, histórias do tempo das malocas, memórias ancestrais guardadas nos fundos dos seringais, onde eram mantidos como escravos, inseridos em um sistema econômico de extração da borracha. Esse foi o tempo do cativeiro.

Juntos trilhamos caminhos rumo ao tempo liberto, tempo dos direitos, e de algumas importantes conquistas, hoje ameaçadas pela política anti indígena que vigora no país.

No presente, vivem um tempo que denominam de Xinã  Bena, Tempo Novo, Tempo da Cultura e se miram em “Novos Espelhos”, novos projetos de vida para as suas comunidades.

O documentário trata da trajetória dessas famílias Kaxi a partir do tempo das malocas, ao tempo presente, onde reelaboram tradições nos altares de Inká.

Além das vozes dos Kaxi, que nos contam suas histórias de hoje e de antigamente, tive como parceiro nesse , o Txai Terri. Ele nos ajuda, com sua narrativa, expor de forma brilhante, como sempre, essa trajetória histórica dos Kaxinawá.

Recurso que tive para adaptar o projeto inicial, que é de um longa metragem, para contar essa em um documentário de quinze minutos, como nos pede o edital. Um desafio, especialmente para mim, que não sou cineasta, mas simplesmente um aprendiz do audiovisual, ferramenta de comunicação de suma importância, e que dá aos Povos Indígenas a visibilidade necessária para os seus Yumakin (recados para o mundo).

Tive a sorte ainda de ter ao meu lado uma equipe genial, que com todo amor, se dispôs a realizar o projeto, enfrentando todas as dificuldades que é filmar na floresta, e com recursos financeiros mínimos.

Xinã Bena: Um novo tempo, o tempo da cultura… o tempo de ‘novos espelhos'...

Porém, não foi possível por falta de recursos financeiros, Mas,em dezembro será lançado na 1a Conferência da Ayahuasca, ‘Yubaka Hayrá’, na terra do povo Puyanawa, em Mâncio Lima-Acre.  E breve, muito breve, assim eu espero, vamos lançar na aldeia São Joaquim para todas as famílias Huni Kuin do Jordão se mirar nesses “Novos Espelhos”.

Minha ausência em seu lançamento também não estava na agenda dos nossos sonhos, mas, a vida nos surpreende de várias maneiras. Como já nos lembrou Guimarães Rosa: ‘Viver é muito perigoso… É preciso se ter coragem!’.
É o que estou tentando ter, com um novo diagnóstico de câncer, para seguir nessa passagem terrena.
Haux Haux Haux!!!

Meus agradecimentos sinceros a Ulisses Sousa da Contexto Gestão de Projetos pela força na formatação e revisão do Projeto em sua fase inicial;  a Sandra Nebelung, roteirista; Sebastião Fonseca, diretor de fotografia; Andrea Monteiro, produtora de campo; Cristiane Cotrim, fotógrafa still; Isaías Ibã Huni Kuin, nosso auxiliar de produção; o ProfDr Joaquim Mana Kaxinawá, responsável pelas traduções da língua hãtxa kuin; a Saci Filmes e sua equipe, produção executiva; a Laranjeiras Cinema e sua equipe, edição e finalização; ao antropólogo Ricardo Dantas, que deu uma força fundamental na organização inicial do material para o trabalho de edição, e; a minha amiga do coração, Karla Martins, que não mediu esforços nos apoios logísticos durante a realização do projeto.

Um agradecimento especial ao meu Txai Terri, por ter mostrado “todos os rios dessa terra, que um dia vão bater no mar…”; por ter me apresentado a esses parentes da floresta, que sempre me receberam com o coração em festa, me alimentaram, me ensinaram, e me cuidaram; por ter nos ajudado a mandar esse yumakin (recado) dos Txais e Shanus para o mundo; o coração agradece ainda a todos os Txais e Shanus que participaram desse projeto, e nos receberam em suas casas, nos seus terreiros, e nos contaram histórias do tempo das malocas e desse Xinã Bena Beisikit Xarabu.

O sonho era lançarmos esse documentário contando com todos meus Txais e Shanus presentes.

Xinã Bena: Um novo tempo, o tempo da cultura… o tempo de ‘novos espelhos'...

ANOTE AÍ:

Atualização, em 20 de dezembro de 2018
Nessa madrugada, a nação Huni Kuin no Acre perdeu uma grande liderança. Faleceu, em São Paulo, a grande liderança Getúlio Huni Kuin. Em a este grande txai as palavras da Dedê: “Quero lembrar de vc assim meu Txai Getúlio!!! Recebi da minha amiga querida, Cristiane Cotrim (still do Xinã Bena) esse presente hoje pela manhã…
Ainda com e trabalhando muito, como sempre foi sua vida. Como Shaneybu, legado deixado pelo seu pai Sueiro Sales, foi um exemplo de líder. Liderava através do seu trabalho, dando os exemplos com seu terreiro e roçados com muita fartura! Foi um guerreiro na luta pela demarcação da Terra Indígena Kaxinawá do Rio Jordão.
Meu último encontro com Getúlio Tenê Dua Bakê… 2014, durante as filmagens do Xinã. Foi nessa despedida… – e agente nem sabia que estava se despedindo…!!! – que gravou comigo mais de uma hora de conversa, contando toda sua trajetória, desde o tempo do cativeiro até os dias de hoje. Parte desse Yumaikim, está no Xinã Bena… “Tempo Novo…Novos Espelhos” Não deu tempo desse meu Txai tão querido e especial se mirar no “Novos Espelhos” Vai mirar agora de outras dimensões… Quem sabe voando como os passarinhos! Um dia a gente se reencontra Txai!
Haux!”

* Acre

** Livro a ser lançado em 2018.

*** O documentário Xinã Bena Beisikit Xarabu foi lançado no dia 19 de novembro de 2017, no Cine Teatro Recreio, Rio Branco-Acre.

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Dede Maia é indigenista e sua trajetória de vida mescla-se com a história do indigenismo acreano. Junto com  grandes indigenistas como os Txais Terri e Antonio Macêdo, ajudou a construir o que hoje chamamos  “a história do Acre Indígena” . Mesmo desenvolvendo vários projetos diferentes em sua trajetória, sempre se destacou como incentivadora e apoiadora do processo de fortalecimento da cultura tradicional em sua expressão artística e material, sendo autora, coautora ou participante de um sem-número de projetos voltados à esta frente indigenista.

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Todas as imagens aqui utilizadas foram feitas durante as filmagens do documentário, e pertencem à página de lançamento do documentário, no Facebook. A seleção foi feita por nosso parceiro Jairo Lima Conheça a página do Crônicas Indigenistas no Facebook Jairo Lima. Lá encontrará, além de nossos textos, várias e diversificadas informações.


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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