Ômicron: Só ampla vacinação na África previne novas variantes

Ômicron: Novas variantes só serão evitadas com ampla vacinação na África

Por Portal vermelho

A Organização Mundial da (OMS) declarou a B.1.1.529 como uma “variante de preocupação” e escolheu como nome “ômicron”, a nova cepa do coronavírus que causa a . A ômicron foi originalmente descoberta na África do Sul. Ela é considerada de preocupação pois tem 50 mutações, sendo mais de 30 na proteína “spike” (a “chave” que o vírus usa para entrar nas células e que é o alvo da maioria das vacinas contra a Covid-19).
Segundo o infectologista Marcos Boulos explicou ao portal Vermelho, novas variantes só vão deixar de surgir se for interrompida a circulação do vírus. Por isso a necessidade da vacinação correr para não haver cepas surgindo em vários lugares. No entanto, como ressalta ele, a maioria dos países da África não têm condições de vacinar com a velocidade necessária. 

Maioria dos países africanos estão com vacinação total abaixo de 20%. Países com melhor vacinação são pequenas ilhas com baixa densidade demográfica como Seychelles e Cabo Verde, ou Marrocos e Tunísia, muito frequentados por turistas europeus.

Ainda não se sabe se ela é mais transmissível ou mais letal: a própria OMS diz que precisará de semanas para compreender melhor o comportamento da variante. Segundo Boulos, o temor que há em torno da variante ômicron, é que não se conhece sua transmissibilidade e gravidade. “É provável que ela seja como as outras, mas não sabemos cientificamente. A vacina tem conseguido pegar todas essas cepas que estão surgindo.”
Passaporte sanitário
Para o médico, os países ricos não se importam muito com o que acontece nos países pobres em relação à pandemia. Com isso, as informações sobre a dimensão da tragédia na África pode estar subnotificada. “Por outro lado, países quentes sofrem menos o impacto de respiratórias que países do hemisfério norte. De qualquer forma, esta não é a primeira variante na África do Sul”, ressalta ele.
Sobre a falta de medidas sanitárias para impedir a entrada nos aeroportos, ele diz que “o nunca fez nada muito certo em relação à contenção do contágio”. Ao menos 9 países e/ou territórios já anunciaram restrições a voos de nações africanas devido à B.1.1.529 até o momento.
“Nem uma medida simples de passaporte da vacina é exigida, porque a vem em primeiro lugar. Pode entrar todo , independente do que ocorra. Se ocorrer alguma coisa, depois a gente vê o que fazer. É esta a mentalidade dos governos. Não há prevenção, apenas reação”, criticou.
Para ele, é preciso acionar a vigilância sanitária normal que não foi feita antes por falta de uma coordenação nacional. Esta seria uma medida habitual para conter a entrada da variante. Nem isso é feito da forma necessária.
Antivacina no Brasil
Boulos também comentou os resultados surpreendentes do Brasil em relação à vacinação, com mais de 60% da população vacinada com duas doses. São números que ultrapassaram até países desenvolvidos, apesar da falta de vacinas e todo o desestímulo do presidente Bolsonaro para que as pessoas se vacinassem. Para ele, o movimento antivacinal no Brasil não é robusto como nos EUA ou em países europeus. 
“Temos uma de programa nacional de imunizações, no Sistema Único de Saúde, que é dos melhores do mundo e a população se beneficia muito. Nos EUA, os antivax conseguem defender seu ponto de vista até judicialmente”, lamenta ele. 
Ele também qualifica como “péssima” nossa gestão nacional da vacinação com a sabotagem do governo e a falta de campanhas motivacionais. “Países do hemisfério norte tinham todas as vacinas disponíveis. Nós só conseguimos avançar porque tínhamos essa tradição. Só por isso. As pessoas não querem morrer disso, então se vacinam”.
Só para mostrar a importância da vacina, ele mencionou o fato de nos EUA, 99% das pessoas que estão morrendo serem não-vacinadas. “Portanto, só a redução de já é muito importante”. 
O fim da pandemia
O infectologista considera absurdo que governos já estejam liberando o uso de máscaras e favorecendo aglomerações e pensando em liberar festas públicas como carnaval e réveillon. Ele observa que as pessoas já estão sem usar máscara há muito , principalmente fora da capital. “O problema é que a oficialização disso é muito pior. Isso já dá um salvo-conduto para as pessoas fazerem o que querem fazer. As pessoas que usariam normalmente a máscara, por outro lado, acabam não usando também, porque não querem ser a pessoa estranha no meio dos outros”, critica. 
Para ele, não podemos deixar acontecer como nos EUA e na Europa que liberaram o uso de máscaras e agora estão tendo que voltar atrás, com dificuldade, porque o contágio e internações pioraram.
“Estamos indo muito bem, mas podíamos ir melhor. É preciso um pouco de paciência. Não vamos esperar piorar. Isso é de uma infantilidade sanitária terrível.”
Que medidas os governos deveriam adotar para enfrentar esse novo cenário de pandemia, em que a vacinação revela seus limites, surgem novas variantes, e as pessoas não têm mais paciência para o distanciamento social? “Não adiante mais falar”, desanima-se ele, acrescentando que os Centros de Contingência da Covid, consórcios científicos montados para orientar os governos, estão sendo dissolvidos. “Justamente, porque os governos ficam cheios de ouvir recomendações dos sem seguir nenhuma delas. Eles vão fazer o que acham que têm que fazer, não vão seguir norma nenhuma, vão ver o que é mais interessante politicamente e economicamente. Vai ser uma atitude reativa”, relatou ele. 
Boulos também se mostrou pessimista em relação aos resultados da CPI da Covid, no Senado, que poderia responsabilizar e punir gestores públicos que favoreceram o alto número de mortes na pandemia. 
“Quando criaram a CPI, eu já comentava que não precisava dela para saber o que está errado. Tanto, que a maior parte das coisas que comprovaram, nós já sabíamos, até porque o governo falava abertamente o que fazia. Não era um segredo, embora tenham surgidas outras coisas”, avalia. “Mas o que vemos é que se sabe o que aconteceu, quem são os responsáveis, mas nada acontece, porque o processo está nas mãos de governistas”, concluiu. 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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