A BUEIRA

A BUEIRA

A BUEIRA

Em um recanto sombrio do povoado Poço dos Gaspar, no estado do Piauí, existe uma pequena bueira, conhecida por ser palco de estranhos fenômenos sobrenaturais que intrigam e assustam a população. Quem passa por ali, especialmente ao cair da noite, corre o risco de se deparar com visões inquietantes. Os relatos são muitos e, a cada geração, novas histórias surgem.

Por Thiago Inácio 

Fala-se, por exemplo, sobre a aparição de uma mulher vestida de branco, que carrega uma vela acesa equilibrada sobre a cabeça. Outras testemunhas dizem ter visto o espírito de um homem montado em um jumento, cavalgando silencioso pela escuridão; enquanto alguns avistaram a figura de crianças fantasmas, espreitando os passantes entre as sombras.

Não bastassem essas visões, há também histórias de luzes misteriosas – os temidos “aparelhos” – que perseguem aqueles que ousam cruzar o trecho. Essas luzes dançam no ar, mudam de cor e parecem perseguir os passantes, causando medo em quem tenta escapar da terrível “bola de fogo” que ronda o local.

Os moradores não têm dúvidas de que o lugar é assombrado. Mas evitá-lo é impossível, pois se localiza na entrada que liga a localidade à zona urbana do município.  

Assim, a pequena bueira de Poço dos Gaspar permanece um enigma. Os mais velhos aconselham que, ao anoitecer, aqueles que tiverem coragem de passar por ali devem fazer o sinal da cruz e evitar olhar para trás. Afinal, alguns mistérios preferem permanecer sem resposta.

530277937 18284356345285258 1301857361622495281 nThiago Inácio – Pesquisador, Folclorista, Escritor.

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS: INÁCIO, Thiago. Lendas, Causos & Mitos: Contos Populares de Lagoa Alegre. Lagoa Alegre, PI, 2025.

<

p style=”text-align: justify;”>Fonte: Causos Assustadores do Piaui.

Deixe seu comentário

UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

PARCERIAS

CONTATO

REVISTA

💚 Apoie a Revista Xapuri

Contribua com qualquer valor e ajude a manter vivo o jornalismo socioambiental independente.

A chave Pix será copiada automaticamente.
Depois é só abrir seu banco, escolher Pix com chave (e-mail), colar a chave e digitar o valor escolhido.