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Amazônia e bem viver da floresta: comida no prato, natureza e felicidade

Amazônia e bem viver da floresta: comida no prato, homem como parte da natureza e felicidade
 
Por Karina Yamamoto/WWF – Cobertura Colaborativa da Semana Chico Mendes 2021

Para quem é religioso –e também para quem não é– a lista que reúne as características do bem viver da floresta se assemelha ao paraíso. Mas esse éden não tem dono, não é propriedade: homens e mulheres fazem parte dele, da floresta recebem a comida, a água limpa, o ar puro, remédios e também as belezas da mata.
 
Na tarde desta quinta-feira (16), o painel “Amazônia e Bem Viver da Floresta” reuniu jovens lideranças indígenas e comunitárias do Brasil e da Bolívia, além de representantes da sociedade civil. A discussão teve espaço até para a descrição “fantasiosa” do famoso líder seringueiro Raimundo Mendes de Barros, mais conhecido como Raimundão.
 
“Ninguém na floresta passa fome, pois ela tem muitas riquezas”, afirmou Silvia Helena Manicoré, do Conselho Nacional dos Seringueiros, que fez a mediação do evento. “Temos muitas riquezas, se não tivéssemos tantas riquezas não estariam atrás de destruir nossa floresta.”
 
Na opinião de Roly Mamio, do Povos Campesinos da Bolívia, o conceito de bem viver precisa ser preservado por meio da educação: “Estamos trabalhando para ensinar às crianças temáticas ligadas ao cuidado, à preservação, para que possamos conscientizar os estudantes e que eles possam crescer com a mentalidade de que é necessário cuidar das nossas florestas”.
 
Amazonia Chico Mendes Juventude 03
 
Os povos tradicionais têm indicativos para definir o bem estar, explicou a jovem liderança indígena Ixtiwã Nukini. São eles: o controle coletivo sobre os territórios, a capacidade de garantir a autonomia alimentar do grupo, a construção de ambiente tranquilo para se viver e  autocuidado com a comunidade e com a produção.  “A gente quer fazer a nossa comunidade crescer, porque a gente produz muita farinha, muita fruta [para a cidade], mas eu não quero apenas [crescimento] para a minha terra, mas para todas as terras indígenas”, concluiu.
 
O jovem indígena Uhnepa Nukini complementou que o bem viver é baseado no pensamento dos povos indígenas. “Não admitimos o domínio nem a destruição dos bens naturais e o bem estar do nosso povo é viver com saúde básica, com educação de qualidade, ter qualidade de água”, disse Uhnepa. 
 
O bem viver na Amazônia não pode, segundo os panelistas, não pode estar dissociado não apenas da segurança alimentar dos povos nos territórios, mas também de cadeias produtivas justas e virtuosas dos produtos que a floresta dá.
 
“Só a borracha não resolve e tem muita riqueza na colocação. A gente entende que o bem viver tem que ter olhar de todos, o morador da floresta precisa de uma cesta de produtos sustentáveis para ter renda o ano todo”, disse Sebastião Pereira, da Verte que produz calçados com borracha comprada diretamente dos seringueiros.

Bruno Pacífico – Coordenador do Centro dos Trabalhadores da Amazônia – CTA
Jornalista e Consultor 
Tel: 68 99608 9681 (TIM)

FOTOS: Jefferson Xavier – Cobertura Colaborativa da Semana Chico Mendes

Amazonia Chico Mendes Juventude 01

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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