Colaborador permanente da Xapuri há 38 edições, com artigos sobre mobilidade urbana, o jornalista Antenor Pinheiro deixa as páginas da revista a partir deste mês. Manterá, contudo, contribuições eventuais e prosseguirá como membro de nosso Conselho Editorial.
Em breve, ao concluir mais um curso na Universidade Federal de Goiás (UFG), Antenor José de Pinheiro Santos já terá as malas prontas. Aposentado como servidor público estadual, vai morar em Havana, Cuba, cidade que, com seu largo conhecimento sobre a vida urbana, considera o melhor lugar do mundo pra se viver.
Precavido, já negocia o visto de moradia no país e os direitos de uma pequena casa no bairro de Vedado, na capital cubana. Se não fosse lá, pela ordem, escolheria viver em Praga (República Checa), Vancouver (Canadá), Leeuwarden (Holanda), Montevidéu (Uruguai), Medellín (Colômbia), Portland (EUA) ou Alto Paraíso (Goiás, Brasil). Os motivos da escolha, conforme diz, são “pessoas e cidades”.
Fica clara, pois, sua opinião de que as cidades dependem de quem vive nelas e as administra. Por exemplo, ele nasceu (1959) e sempre viveu em Goiânia, mas não gosta mais da cidade que já foi modelo de urbanidade no Brasil. E explica por quê: “Cidade desorganizada e sem governo, feia. Fugi!”
De fato, desde 2005 ele mora no município de Hidrolândia, numa chácara nas cercanias da capital, distante uns 25 km do centro. Fez uma casa jeitosa, avarandada, com churrasqueira separada e cercada de jardins e pomar, onde pernoita todos os dias e passa seus fins de semana. Ali, tem o hábito de plantar árvores pra que cresçam junto com novas amizades.
A maior parte do tempo, no entanto, ele passa mesmo em Goiânia, seja por razões profissionais ou como estudante de graduação em Geografia, na UFG. Sua vida acadêmica, aliás, vem de longe. Começou em 1977, quando se graduou em Perito Criminal, pela Academia de Polícia Civil do Estado de Goiás, profissão que exerceu por décadas como funcionário concursado e ainda hoje exerce como autônomo, no que é bastante requisitado.
Em 1984, Antenor abraçou com vontade a profissão de jornalista, ao se formar em Comunicação Social, também pela UFG. Mas nunca se distanciou por completo do ambiente acadêmico, fazendo vários cursos de pós-graduação em áreas afins à da perícia técnica e ao campo de políticas públicas. E foi por necessidade, segundo conta, que se tornou estudioso e especialista em Mobilidade Urbana.
Na atuação como perito, ele diz ter percebido que, pra compreender direito os crimes e acidentes de trânsito que periciava, era preciso analisar as circunstâncias em que eles ocorriam. E explica:
“Foi quando me especializei em criminologia para entender os fenômenos criminógenos no ambiente da circulação viária e descobri que o problema estava na agenda das cidades, os modelos de desenvolvimento e gestão, arquitetura urbanística, direitos humanos, redes técnicas e ecologia urbana.”
Passou, também, a viajar pelo mundo com a intenção de estudar as áreas urbanas. Logo viu que as cidades brasileiras, de modo geral, não têm planejamento e estão bastante atrasadas em conceitos de cidadania e políticas públicas, mesmo em relação a dezenas de outras na América Latina. Isso, apesar da ampla quantidade de normas que regulam o setor no Brasil, como o Estatuto da Cidade, Lei Nacional de Mobilidade e tantas outras.
Em tese, portanto, haveria amparo legal à modernização das cidades canarinhas, desde conceitos gerais de urbanidade até detalhes, como calçadas, faixas de pedestres e acessibilidade a pessoas com deficiência. O que falta é gestão. Ademais, por exemplo, na maioria das localidades quem define os trajetos e tarifas dos transportes públicos são os donos de empresas concessionárias desses serviços.
Ao se aprofundar no estudo dessas questões, Antenor passou a ser procurado pra escrever na imprensa especializada e pra falar em conclaves nacionais e internacionais sobre o assunto. Ao mesmo tempo, se embrenhou em entidades representativas. Foi, por duas gestões, presidente da Associação de Peritos Criminais e Médicos-legistas de Goiás e, em nível nacional, da Associação Brasileira de Criminalística.
Nesses cargos, além de promover mudanças na formação dos profissionais dessas áreas, articulou a aproximação de gestores públicos e entidades privadas ao debate do assunto. Isso envolvia inclusive a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), com vistas a possíveis alterações nos carros e utilitários.
Aproximou, também, as gestões municipais de trânsito da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), entidade da qual ainda hoje faz parte. Durante o governo do prefeito Pedro Wilson Guimarães, em Goiânia 2000/2004), foi diretor do órgão municipal de trânsito. Antes, em 1986, havia sido candidato a deputado estadual pelo seu partido, o PT, mas não obteve a votação necessária, embora bem votado.
O curso de Geografia a que se dedica atualmente é uma maneira de tentar aprofundar seus conhecimentos, no sentido de expandir o entendimento das cidades a planos mais amplos. E combina bastante com a maneira como ele próprio se define:
“Uma pessoa sedenta de aprendizado, viajante convicto, multívoco por natureza, tomador de cerveja e apreciador de queijo trança; privilegiado por ter seis filhos e um neto que são a minha razão de ser.”
Os filhos a que ele se refere são de três casamentos diferentes, dois de cada. São cinco mulheres e um homem, todos adultos, com formação universitária, bem encaminhados na vida. Uma situação que lhe permite alçar voo ainda mais longo, em outra parte do mundo, como planeja.