Ariano Suassuna: “Eu gosto é de gente doida!”
Aquilo que chamamos de loucura, normalmente, tem a ver mais com diferenças sociais e culturais do que com doenças biológicas. Não são poucos os teóricos da psicologia tiram os pesos dos rótulos do comportamento humano e denunciam como a loucura é usada para segregar e oprimir grupos sociais menos favorecidos.
Do site Psicologias do Brasil
Ariano Suassuna fala aqui, com muita irreverência, do quanto uma pessoa que é chamada de doida, na verdade, pode ser alguém com uma criatividade e criticidade mal reconhecida pelo seu meio.
“Eu gosto muito de história de doido. Não sei se é por identificação. Mas eu gosto muito. Eu tenho um primo, Saul. Uma vez ele disse para mim. “Ariano, na família da gente quem não é doido junta pedra pra jogar no povo.”
Não sei se é por isso, mas eu tenho muito interesse por doido, pois eles veem as coisas de um ponto de vista original. E isso é uma característica do escritor também, o escritor verdadeiro não vai atrás do lugar comum, ele procura o que há de verdade por trás da aparência. O doido é danado para revelar isso!
Meu pai governou a Paraíba de 1924 a 1928, tanto que nasci no palácio. Em 1963 houve um congresso literário na Paraíba e eu fui, o governador do Estado ofereceu um almoço, quando eu fui entrar o guarda me parou. Perguntei por que eu não podia entrar e ele disse. “O senhor tá sem gravata.”
Eu não uso gravata.
E eu disse. Você veja uma coisa. Essa é a segunda vez que estou entrando nesse palácio, a primeira vez eu entrei nu e ninguém reclamou ( É que eu nasci lá, viu).
Meu pai quando era governador, construiu um hospício e colocou o nome do maior psiquiatra brasileiro da época. No dia da inauguração, muito orgulho da obra que tinha feito, meu pai chegou lá, os médicos todos de branco e entraram os doidos com uns carrinhos de mão que haviam sido adquiridos pelo governo pra iniciarem a tal psicoterapia pelo trabalho.
Um dos doidos estava com o carro de mão de cabeça pra baixo. Aí meu pai chamou ele e disse. “Olha, não é assim não que se carrega, é assim…” E o doido respondeu, eu sei doutor. Mas é que se eu carregar de cabeça pra cima eles colocam pedra dentro pra eu carregar.
Não era um doido, era um gênio de uma cabeça formidável!”
Fonte: Revista Pazes
ARIANO SUASSUNA

Ariano Suassuna nasceu em João Pessoa, no estado da Paraíba, no dia 16 de junho de 1927. Seu pai — João Suassuna (1886-1930) — era fazendeiro e governador do estado.
Dois anos depois, durante a Revolução de 1930, o pai do autor foi assassinado no Rio de Janeiro. Mais tarde, em 1934, na cidade de Taperoá, o escritor iniciou seus estudos.
Em 1942, sua família foi viver em Recife, no estado de Pernambuco. Nessa cidade, o jovem Suassuna estudou no Ginásio Pernambucano. Em 1945, foi transferido para o colégio Oswaldo Cruz. E, no ano seguinte, ingressou na Faculdade de Direito. Em 1947, escreveu sua primeira peça teatral — Uma mulher vestida de sol.
No ano seguinte, em 1948, por essa obra, recebeu o Prêmio Nicolau Carlos Magno. Ainda em 1948, passou a trabalhar com teatro ambulante. Em 1950, ganhou o Prêmio Martins Pena e concluiu o curso de Direito na Universidade Federal de Pernambuco. Porém, devido a uma doença no pulmão, voltou para Taperoá.
Dois anos depois, retornou ao Recife, onde trabalhou como advogado até 1956, quando começou a trabalhar como professor de Estética da Universidade Federal de Pernambuco. Também assumiu o cargo de diretor de cultura do Serviço Social da Indústria, o qual ocuparia até 1960.
Ganhou o prêmio Vânia Souto de Carvalho, em 1957, ano em que se casou com Zélia de Andrade Lima. Sua famosa peça teatral Auto da Compadecida levou a medalha de ouro da Associação Paulista de Críticos Teatrais, em 1958. No ano seguinte, em parceria com Hermilo Borba Filho (1917-1976), Suassuna criou o Teatro Popular do Nordeste.
O dramaturgo, em 1960, se formou em Filosofia na Universidade Católica de Pernambuco. No ano de 1967, fez parte do Conselho Federal de Cultura e, no ano seguinte, do Conselho Estadual de Cultura de Pernambuco. Em 1969, assumiu o cargo de diretor do Departamento de Extensão Cultural da Universidade Federal de Pernambuco.
Foi nomeado, em 1975, secretário de Educação e Cultura do Recife, função ocupada até 1978. No ano de 1995, assumiu o cargo de secretário de Cultura do estado de Pernambuco. Anos depois, em 2007, ocupou novamente esse mesmo cargo. Ariano Suassuna faleceu no dia 23 de julho de 2014, em Recife.”