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Badia Medeiros

Badia Medeiros: Emudece o som da viola do grande músico cerratense

Badia Medeiros: Emudece o som da viola do grande músico cerratense

“O Som da Viola em mim é um som de amor. (…) A Viola pra mim, o Som da Viola foi isso: o amor que eu tive por ela, e aprendi a gostar da viola. Inclusive o Som da Viola vem mais quando a pessoa tá muito alegre, muito satisfeita. Ele lembra logo da Viola porque o som dela ajuda ele a ficar mais alegre, mais satisfeito, abrir mais o coração. Agora quando é na tristeza, não lembra. Quando, na tristeza, você lembra assim, depois de uns tempo passado, você vai disfarçá por ela. Mas no momento, som nenhum não serve. E aí, no caso, a Viola vai ajudar a pessoa a recuperar”. — Badia Medeiros

Olhar sereno, fala mansa de bom mineiro, olhos pequenos, míopes e um pouco cansados da labuta entre dós, lás, sóis… Foram muitos sóis que Seo Badia viu nascer nessa vida: 78 ao todo. Agora sons, não há como contar. Tinha uma viola pendurada na ripa do telhado da velha casa de seu pai. Sua idade era pouca, apenas 9 anos, mas… a viola o chamava, o queria, e esse amor era recíproco.

Entretanto, sem tradição de música na família e com o arrocho dos trabalhos roceiros ficou lá até que o menino Badia tomou coragem e pediu permissão para resgatar a viola e, primeiro, aprendeu a afiná-la, com o compadre João de seu pai. Badia, intuitivamente, já sabia tocar, reconhecia e embaralhava as notas musicais com maestria. Aperfeiçoou seu dom foi, como se diz por aqui, de ouvido, ouvindo as tocadas e tiradas de outros violeiros.

Pronto. A dupla estava formada era Seo Badia e a viola e a viola e Seo Badia. Os sons, os tons, os ritmos saíram todos. Alcançaram as Festas de Folia, especialmente a Folia do Divino, do qual era devoto, atravessou Minas e veio para Goiás e daqui se espalhou como legítima representação da cultura cerratense para os diversos rincões do Brasil que aprecia a boa música de raiz e um bom trinado de viola.

Seo Badia sempre esteve ligado às manifestações populares de cultura. Foi Capitão de Folia, tocador de viola e violão e dançador de Catira e Lundu. Tocava também uma Sanfoninha de Oito Baixos, conhecida por “Pé-de-Bode”.

Badia Alves Medeiros nasceu na Fazenda Galho em Unaí-MG, no ano da graça de 1940. E nos deixou no dia cinzento de 3 de novembro de 2018. Fica com seus amigos, seus alunos, seus fãs, uma profunda tristeza, mas com toda certeza foi recebido no céu por uma orquestra sinfônica de violeiros-mestres, como ele.

Viveu uma vida singela, vendendo, de bicicleta, os doces que Dona Cesária fazia, com quem foi casado por 53 anos e depois passou a consertar instrumentos e nos momentos de glória nos prestigiava com o encanto de sua voz meiga e do estrondo espetacular de sua viola.

Apresentou-se muito por esse Brasil afora, com a viola e seu chapeuzinho de feltro marrom, e foi bem reconhecido nos espaços culturais e musicais. Com sua Viola, Badia Medeiros levou a Música Caipira a diversos cantos do Brasil. Ganhou o Prêmio Renato Russo no ano de 1998. Registrou algumas de suas Músicas, em 1999, no CD Sertão Ponteado – Memórias Musicais do Entorno do DF – Distrito Federal. Em 2001, Badia Medeiros participou do álbum de 10 CDs, intitulado Cartografia Musical Brasileira, interpretando “Recordação do Passado” (Badia Medeiros). Nestes CDs participaram também importantes nomes da música brasileira.

Em 2002, expandiu sua fama ao se apresentar com os célebres Violeiros Paulo Freire e Roberto Corrêa, no show “Violas do Brasil”. O espetáculo foi mostrado em 36 cidades e oito estados brasileiros. Dessa turnê, surgiu o CD “Esbrangente” – expressão criada pelo próprio Badia e que significava que algo era além de abrangente. Badia Medeiros também era Mestre na criação de palavras que simbolizavam seus sentimentos, era um neologista. Em 2003, Seo Badia se apresentou no Teatro Nacional de Brasília, juntamente com Roberto Corrêa, no show “Violas do Sertão”.

E, em 2004, ele gravou o seu primeiro CD solo, intitulado “Badia Medeiros – Um Mestre do Sertão”. Daí para a frente, muitos shows, muita música, muita prosa boa que só quem ouviu e viu de perto vai poder guardar em lugar recôndito da memória.

Salve, Seo Badia Medeiros!

Badia Medeiros

IedaIêda Vilas-Boas
Escritora


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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