Brumadinho: A Vale sabia!

Brumadinho: A Vale sabia!

Impressionante como mesmo depois de mais de uma centena de mortos e mais de uma centena de desaparecidos, da imensa dor da população de Brumadinho e do sofrimento do mineiro, que vive sob a ameaça de ao menos 13 outras barragens, da presença de autoridades federais com a promessa de que “dessa vez vai ser diferente”, mesmo depois de algumas prisões de bagres pequenos (já liberados), chega-se ao conhecimento que, embora previsíveil, ainda causa espanto: A Vale sabia dos riscos de rompimento da barragem do Córrego do Feijão.

De forma simples e didática, o pessoal da página Água, sua linda fez um resumo dessa triste realidade: sim, a  Vale sabia!

Confira o post:

Investigação da Polícia Federal mostra que a Vale trocou emails dois dias antes do rompimento e sabia dos riscos. A decisão da Vale de não pedir evacuação dos e moradores da zona de projeção de inundação resultou em 322 mortes (157 corpos encontrados, 165 ainda desaparecidos) imediatas. Pior, 15 dias antes um geólogo da Vale já havia recebido emails sobre alterações na estrutura. As informações foram trocadas entre funcionários da Vale com engenheiros da TÜV SÜD e da Tec Wise. Sabiam que qualquer rompimento mataria funcionários e moradores abaixo da barragem, mas não fizeram nada. Sabiam também que se tivessem dado início ao plano de emergência dois dias antes, haveria mais para impedir que a lama tóxica contaminasse toda a bacia do Rio Paraopeba e chegasse ao Rio São Francisco.

Saiba mais:
“Geólogo da Vale diz que recebeu e-mail sobre alterações em barragem 15 dias antes de tragédia”, O Globo, 07/02/2019:https://glo.bo/2Sz6Akw
“‘A mina deveria ter sido imediatamente evacuada’, diz especialista em barragens da UFMG”, O Globo, 06/02/2019: https://glo.bo/2tdQvT6

e imagede capa: página Água, sua linda no Facebook.

Bandeira de minérios: Reprodução/Internet


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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