CPT lança página com registro de Massacres no Campo desde 1985

CPT lança página com registro de Massacres no Campo desde 1985

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1Massacre Pau Darco Reprter Brasil 8Passaram-se 365 dias desde o Massacre de Pau D’Arco, no do Pará. 17 policiais civis e militares foram presos, soltos, presos e, agora, podem ser liberados a qualquer momento novamente. Investigação da PF sobre possíveis mandantes está em andamento. Delação premiada homologada. E individualização de conduta de réus permitiu avanço do caso.

Para este mês de maio, em que se completa um ano do Massacre de Pau D’Arco, a CPT preparou uma série de conteúdos sobre o caso. A próxima reportagem é sobre os familiares das vítimas e a situação fundiária da área reivindicada para Acompanhe em nosso site e nas redes sociais.

Há um ano, naquela madrugada de quarta-feira do dia 24 de maio de 2017, por volta das 5 horas da manhã, policiais civis e militares se reuniram em frente ao 7º Batalhão da Polícia Militar (PM) de Redenção, no Pará, com a finalidade, em tese, de cumprir 14 mandados de prisão preventiva e temporária no então Acampamento Nova Vida, no interior da Fazenda Santa Lúcia, no município de Pau D’Arco. Mas naquela ocasião não haveria prisões, e sim .

As terras paraenses, nesse dia, foram encharcadas por sangue de nove homens e uma . O Massacre de Pau D’Arco, como ficou conhecido, é o maior do Brasil desde Eldorado dos Carajás – 21 anos depois. As mãos da polícia puseram fim às vidas de Jane Júlia de Oliveira, Oseir Rodrigues da , Nelson Souza Milhomem, Wedson Pereira da Silva, Weclebson Pereira Milhomem, Bruno Henrique Pereira Gomes, 20 anos, Hércules Santos de Oliveira, 20, Regivaldo Pereira da Silva, 33, Ronaldo Pereira de Souza, 41, e Antônio Pereira Milhomem, 50. O acampamento, algum depois, passou a homenagear a liderança Jane Júlia.

Compuseram a operação no 29 policiais civis e militares, sendo duas equipes da Polícia Civil (PC) – cada uma com quatro integrantes, e uma equipe específica da Delegacia de Conflitos Agrários (DECA) –, uma equipe do Grupo Tático Operacional (GTO) da PM de Conceição do Araguaia, uma equipe do GTO de Xinguara, e duas equipes da PM de Redenção e quatro policiais militares do Serviço de Inteligência, conhecido como P2.

Diante de tantos policiais destacados para essa operação, um fator essencial que possibilitou a identificação dos reais envolvidos no massacre foi a delação premiada de dois agentes. Os acordos de colaboração com a foram homologados, ainda no ano passado, entre o então titular da DECA, Valdivino Miranda da Silva Júnior, 32 anos, e o investigador da PC, Raimundo Nonato de Oliveira Lopes, 45, ambos réus no processo, com a Polícia Federal (PF). Com isso foi possível chegar aos 17 policiais que realmente tiveram algum tipo de participação no Massacre de Pau D’Arco.

Em setembro de 2017, após meses de investigações da PF e a tese policial de confronto com as vítimas ser descartada, o Ministério Público do Estado do Pará (MP-PA) – por meio dos promotores de Justiça de Redenção Alfredo Martins de Amorim, José Alberto Grisi Dantas e Leonardo Jorge Lima Caldas – ofereceu denúncia contra 17 policiais, sendo 13 militares e 4 civis, pelos crimes de homicídio qualificado, constituição de milícia privada, fraude processual e tortura.

São réus neste processo: o tenente coronel Carlos Kened Gonçalves de Souza, 47 anos; 2º tenente Rômulo Neves de Azevedo, 32; cabo Cristiano Fernando da Silva, 37; soldado Rodrigo Matias de Souza, 28; soldado Jonatas Pereira e Silva, 26; soldado Neuily Sousa da Silva, 28; cabo Welinton da Silva Lira, 39; 2º sargento Adivone Vitorino da Silva, 44; soldado Francisco Ragau Cipriano de Almeida, 24; 3º sargento Orlando Cunha de Sousa, 41; 3º sargento Ronaldo Silva Lima, 43; cabo Ricardo Moreira da Costa Dutra, 33, e o 2º sargento Uilson Alves da Silva, 46. E os quatro policiais civis: o delegado da DECA, Valdivino Miranda da Silva Júnior, 32; o investigador Raimundo Nonato de Oliveira Lopes, 45; o escrivão Douglas Eduardo da Silva Luz, 28; e o investigador Euclides da Silva Lima Júnior, 30.

José Batista Afonso, advogado da Comissão Pastoral da (CPT) em Marabá e integrante da assistência de acusação no processo do caso, analisa, no vídeo abaixo, a participação do Estado, através de agentes públicos, nos conflitos no campo.

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Fonte: Comissão Pastoral da Terra

 

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Crédito dados: CEDOC Dom Tomás Balduino / CPT

Conteúdo sob licenciamento Creative Commons

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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