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Crisanto Rudzö Tseremey’wá: Povo Xavante, eu também peguei Covid

Crisanto Rudzö Tseremey'wá: , eu também peguei Covid, vocês têm que se cuidar!

“Infelizmente, a avança inclemente sobre  as populações mais frágeis e vulneráveis. Com nossos , a situação não é diferente. A cada dia, mais mortes são registradas entre as comunidades indígenas, em todas as regiões do . No Centro Oeste, a  Covid-19 avança forte sobre os Xavante, um povo valente que, pela pujança de sua , conseguiu resistir a 80 anos de contato com a sociedade nacional. Agora, ante esse terrível vírus, ante essa terrível pandemia, o povo Xavante encontra-se indefeso, e precisa da minha, da sua, da nossa solidariedade.Lucélia Santos.

No povo Xavante, nessa última semana, são duas mortes por dia. E muitas, muitas pessoas enfermas. Crisanto Xavante, presidente da Federação dos de Matp Grosso (FEPOIMT) encontra-se em tratamento, em estado grave, em Barra do Garças. A mãe e o pai de Crisanto também estão doentes, também em estado grave.

Do seu leito de UTI em Barra do Garças, Crisanto gravou um vídeo alertando sua comunidade sobre a gravidade da doença. Veja a seguir a mensagem e o vídeo de Crisanto Xavante:

Povo Xavante, povo verdadeiro, vocês da Terra Indígena São Marcos, estou gravando para vocês, mandando que vocês parem de fazer aglomeração, agora estou no hospital, falando daqui.

Prestem muita atenção no que eu vou falar: se você estiver se sentindo mal, se senitr que a saúde não está boa, que seu peito está doendo, se você está sentindo falta de ar, não espere muito, você deve buscar o tratamento. Quando a doença já estiver tomando conta, é muito difícil de curar. Quando a doença fechar o pulmão, é muito difícil de se salvar, a nossa imunidade é muito baixa para essa doença.

Esta é a mensagem para todos os Xavante: cuidem dos anciãos. Os jovens estão levando a doença para os velhos, por isso prestem muita atenção na minha fala, para não morrer muita gente. Não espera a pessoa piorar para começar o tratamento, desde o começo, quando apresentar dores na garganta, precisa de ir até a unidade de atendimento. Quando piorar, é difícil salvar, por isso estou mandando esta mensagem para a Aldeia São Marcos, Guadalupe, e todas as aldeias da Reserva São Marcos. Campinápolis também, fiquem em casa, por favor! 

Se você vai sair pra cidade, pra receber salário, deve ir rápido, com máscara e proteção individual, tudo higienizado, mantendo 1 metro de distância, e evite aglormeração. Eu peguei essa doença em Campinápolis, eu estava participando de uma reunião virtual junto com outras pessoas, de uma pessoa que chegou de Barra do Garças, por isso estou aqui, fazendo tratamento.

Mando esta mensagem para São Marcos e Campinápolis. Por favor, espalhem minha mensagem. Estou em tratamento em Barra do Garças.”

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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