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E agora, Brasil?

E agora, Brasil?

Que encruzilhada vive o Brasil hoje? Que horizontes se apresentam para o país? O que são árvores e o que é floresta no Brasil de hoje? Dá pra enxergar para mais além do amanhã?

Por Emir Sader

Sabemos que sempre há horizontes de superação de cada situação. Quando veio o golpe de 1964, alguns começaram a ver em algumas diferenças no interior do novo regime, sintomas de que ele não duraria muito.

Maria Conceição Tavares lançou mão da sua experiência para advertir que ela tinha ouvido previsões precipitadas como aquelas quando o salazarismo se instalou em Portugal e sobreviveu por várias décadas.

A ditadura, ao militarizar o Estado brasileiro, ao destruir todos os espaços democráticos existentes, vinha para ficar, pretendia dar a volta numa página da história, que nunca mais retornaria.

FHC pretendeu ter virado a página do getulismo no Brasil, ao promover o Estado mínimo e a centralidade do mercado, pretendendo ter reduzido para sempre as dimensões do Estado e da esfera pública. Quando ele promulgou o Plano Real, houve quem dissesse que o Plano não duraria muito, que assim que os trabalhadores se dessem conta que seus salários também, junto com os preços, estavam congelados, o Plano se esgotaria.

Em um e em outro momento, os períodos de auge da direita no Brasil, parecia que não havia mais horizontes para a esquerda. Foram momentos de derrotas muito duras para a esquerda, não apenas para suas organizações, para seus líderes, mas para suas próprias ideias.

A economia voltava a crescer na ditadura, a luta armada era derrotada, no Brasil e no continente. O modelo brasileiro ganhava adesões das classes dominantes de outros países, os regimes militares se expandiam e se instalava um círculo do terror no cone sul latino-americano.

A onda neoliberal foi devastadora também no Brasil. A falência do Estado decretada pelo novo modelo que assumia o capitalismo, parecia irreversível. E com ele, a força dos partidos, dos sindicatos, da própria política, como havíamos conhecido até ali.

Parecia que a maior novidade da esquerda brasileira, o PT, se esgotaria e seria superado pelos novos tempos, antes mesmo de ter oportunidade de governar o país e colocar em prática suas ideias, triunfando ou fracassando.

Mas a nova toupeira – imagem que eu resgatei no meu livro anterior – continuava a fazer seu trabalho, o de aprofundar as contradições, mesmo que de maneira subterrânea, até que elas reapareçam bruscamente à superfície, com todo seu vigor.

O período político atual, tão ou até mais turbulento que os que o precederam, pode parecer como caracterizado por um sistema blindado, em que as elites dominantes tratam de bloquear os espaços possíveis de acumulação de forca por parte dos movimentos populares, para tratar de impedir que retornem como alternativa popular com capacidade hegemônica.

Acreditam que, se não puderam congelar a história, se não puderam impor um pensamento único, poderiam agora se constituir como as únicas forças com capacidade para dirigir o Estado brasileiro.

Contam com o grande empresariado, com o monopólio privado dos meios de comunicação, com grande parte do Judiciário, com forças policiais e com um governo recém-eleito, mesmo se de forma fraudulenta.

Acreditam que com isso poderiam excluir o povo da história, impedir que as lideranças populares mantenham o apoio da grande maioria da população, que são capazes de camuflar a realidade e impor pautas imaginárias na cabeça da grande massa da população.

Acreditam que podem esconder que governam para os ricos, que condenaram o Lula sem provas, que são capazes de fazer com que a economia, dentro do marco do neoliberalismo, possa voltar a crescer.

Em suma, acreditam nas suas próprias mentiras, que muito rapidamente começam a ser desmascaradas. Diante dos impasses que mais cedo que tarde atam a esse governo e diante da situação difícil da esquerda, temos que nos perguntar: E agora, Brasil? Que futuro podemos construir? Por onde podemos voltar a avançar? Como resgatar a liberdade do Lula, para que possa voltar a conduzir, plenamente, as lutas do povo brasileiro?

Nota da Redação: Esta matéria foi publicada antes da liberdade de Lula e do acórdão do Fachin. Voltamos a publicá-la porque, em sua essência, as perguntas do professor Emir Sader seguem vigentes.

 

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Emir Sader – Sociólogo –  Autor do livro “O Brasil que queremos”. Membro do Conselho Editorial da Revista Xapuri. Foto: Enterro do músico Evaldo, assinado com 80 tiros por homens do Exército no Rio de Janeiro, na semana passada, por Rádio Band News FM.

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Salve! Taí a Revista Xapuri, edição 82, em homenagem ao Jaime Sautchuk, prontinha pra você! Gostando, por favor curta, comente, compartilhe. Boa leitura !

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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