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Gente criança e Gente adulta

GENTE CRIANÇA E GENTE ADULTA

Gente criança e Gente adulta

Por Batista Filho
Ao nascer uma criança
nasce um verso.
a cada gesto
a cada choro
a cada riso
esse verso inicial se multiplica.

uma criança
– toda criança! –
é um verso em movimento.
um poema em construção.
infeliz de quem o cala.
infeliz de quem o impede
de se tornar poema.
gente adulta
perversa
em nome de interesses econômicos
tem assassinado
milhares e milhares
milhões de crianças
poesias em movimento.
gente adulta
de coração duro
chega a justificar
tanta mortandade infantil
creditando ao carma.
ou seja:
responsabiliza
as vítimas
pelos crimes dos algozes
assim como estupradores tentam responsabilizar suas “presas”
por atiçar suas taras
e seus instintos mais primitivos.
gente adulta
de coração duro
de voz aveludada
de sorriso fácil
mesmo em tais casos
continua a sustentar
que não há algoz
nem vítima.
e ao assim proceder
se alinha a quem trava o progresso espiritual da humanidade.
Fonte: Facebook

UMA LÁGRIMA

A poesia de batista filho combina palavras, significados e qualidades  e nos faz ver o mar e sua complexidade em uma única lágrima. A poesia é uma maneira de falar, que tende a valorizar o ato mesmo da fala, transformando-o em objeto de contemplação e deleite

uma lágrima
é um mar em miniatura.
nem por isso, menos profundo e misterioso.
sujeito a tempestades e calmarias,
uma lágrima é um mar em miniatura

em sonho vi uma lágrima no teu rosto. naveguei até naufragar no fundo abissal de tu’alma.
batista filho – sítio encantado, nov/2020
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João Batista de Oliveira Filho, nascido em 1958, quinto filho da prole de sete de Seu Bá e Dadinha, é natural de Parnaíba-PI. Em 1977 mudou para Brasília. Há seis anos reside no sítio Encantado, no município de Alexânia-GO. O poeta “batista filho” convive com cães e gatos, cria galinhas e patos enquanto apascenta sonhos em forma de poesia.

 
   
   
   
   
   
   
   
   
   
   
   
   
   
   
   
   
   
   
   
   
   
   
   
   
   
   
   
   
   
   
   
   

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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