Procura
Fechar esta caixa de pesquisa.

Jornal Em Tempo digitalizado está disponível na base de dados do CSBH

Jornal Em Tempo digitalizado está disponível na base de dados do CSBH

O Centro Sérgio Buarque de Holanda disponibiliza aos leitores, pesquisadores e a toda militância da esquerda brasileira o jornal Em Tempo na íntegra, em formato digital no Acervo do CSBH. O periódico circulou de forma impressa de 1977 até 2004, e foi formado inicialmente por uma cooperativa de jornalistas, com sócios que participavam com recursos em forma de cotas e com voluntário e militante.
Projeto inovador e democrático, o jornal participou da formação de toda uma geração de combatentes socialistas. Podemos destacar algumas séries importantes como “A da esquerda brasileira” (dirigida por Marco Aurélio Garcia) e “Marxismo e a questão do partido” (dirigida por João Machado), que buscavam contribuir com a formação da militância.
O Em Tempo possuía uma grande rede de colaboradores da envergadura de Paul Singer e Paulo Freire, e publicou diversas entrevistas exclusivas importantes como as que foram feitas com Jean Paul Sartre, Florestan Fernandes, José Ibrahim e Manoel da Conceição. Outro aspecto central na do periódico foi a sua cobertura dos acontecimentos internacionais, entre os quais podemos citar a cobertura extensa das revoluções na América Latina.
Em Tempo, como toda a esquerda brasileira, foi sacudido ainda na década de 1980 com a entrada na cena brasileira do movimento pró-PT. No seu interior, a proposta de construção do não era unânime. Rapidamente as divergências sobre esse tema afloraram, disputa que quase inviabilizou o projeto. Para manter a defesa do movimento pró-PT com mais coesão política e maior identidade, nasce a ORM-DS (Organização Revolucionária Marxista – Socialista).
Em 2019, a atual Democracia Socialista – tendência interna do PT – completa 40 anos. As páginas do Em Tempo nos mostram o papel relevante que a DS teve na construção do partido e nos debates centrais que marcaram essa trajetória, como a estratégia socialista, o papel da democrática no Brasil, a emancipação das e outras temas.
O leitor também encontrará no acervo online textos sobre ‘combate ao racismo’, ‘a luta contra a homofobia’ e diversas análises denunciando o caráter anti-popular do projeto neoliberal. Ou seja, um registro vivo e crítico dos acontecimentos que marcaram o período de existência do jornal.
O texto abaixo destaca alguns registros marcantes da trajetória do Em Tempo para leitores/as que desejarem se aprofundar na de todo material disponível.
Boa Leitura.
Foto de Capa: Democracia Socialista.

Deixe seu comentário

UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

PARCERIAS

CONTATO

logo xapuri

posts relacionados

REVISTA