Mães pela diversidade

Mães pela diversidade, contra o preconceito

Mães na luta contra o preconceito

“Tire seu preconceito do caminho. Vamos passar com nosso amor” –exibe um dos cartazes do “Mães Pela Diversidade.”

Ser + no Brasil significa . Sob a máscara da diversidade, da alegria e da harmonia, a cultura do país esconde seus preconceitos. Porém, eles se revelam a qualquer possibilidade de agressão. É notável que os direitos das minorias nunca estiveram fincados em pedra: foram e ainda são conquistados por muita dos e, em momentos de crise, sofrem ameaças de questionamentos. No país que mais mata a população LGBT+, 1 a cada 19 horas, segundo mapeamento da ONG Grupo Gay da Bahia em 2017, a militância e a defesa da comunidade torna-se essencial para a garantia da sua vida e dos seus direitos sociais. Dentro dessa luta, destaca-se a atuação do grupo “Mães Pela Diversidade”, que une famílias contra o preconceito.

Criado em setembro de 2014, na cidade de , o grupo está presente em 23 estados e difundido em vários municípios. Formado por cerca de 1500 pessoas em todo o Brasil, é dividido em unidades estaduais que detém autonomia para desenvolver projetos e atuar em eventos vindos de várias instituições de ensino e ONGs, subordinados a uma coordenação Nacional.

O coletivo define-se totalmente laico, independente e suprapartidário. “Atuamos diretamente no acolhimento de pais e mães sobre a questão de se ter um filho LGBT e oferecemos ajuda psicológica e acompanhamento direcionado dentro do grupo. Ajudamos os pais a saírem do armário, se fortalecerem e caminharem ao lado de seus filhos.” – afirma Paola Porto, advogada, professora universitária e mãe participante do grupo no Rio de Janeiro.

Em um momento em que o preconceito e os discursos LGBT+fóbicos ganham proporções inesperadas, a luta é fortificada pelo desse coletivo. O entendimento dos direitos enquanto LGBT+, tanto pelo indivíduo, como por sua família, demonstra-se fundamental para a construção de uma sociedade alheia à moral heteronormativa.

“Lutar contra o preconceito ainda dentro do círculo familiar é de extrema e talvez a mais importante vertente de luta do grupo, porque acreditamos que é dentro do lar onde o primeiro acolhimento deve ser feito. Toda /jovem/adulto LGBT merece e deve ser respeitado em sua construção e os pais darem suporte e necessários ao seu desenvolvimento.” – declara Paola.

No entanto, combater o preconceito revela-se um trabalho minado pela ignorância e pela de conhecimento. Segundo a mãe-participante do coletivo, um dos maiores desafios seria a falta de compreensão sobre o que é de gênero e orientação sexual, o que leva a tantos falsos conceitos e a uma maior intolerância e violência contra aqueles diferentes do padrão social.

Paola também fala sobre a resposta recebida pelo movimento. “Positivas enquanto dentro de nossa bolha. Ao sairmos, muitas vezes somos gratuitamente agredidas e não compreendidas. Mas por outro lado, o retorno é incrível, por exemplo, quando atuamos em manifestações ou em paradas LGBTs. O reconhecimento dos demais, especialmente quando nos deparamos com algum jovem ou adulto que não possui acolhimento e respeito dentro do seu ambiente familiar. Eles pedem informações, falam do sonho deles em serem aceitos por seus parentes.”

Nesse sentido, é evidente a importância da família para a população LGBT+. Infelizmente, sabe-se que tal grau de esclarecimento e apoio não se encontra em todos os núcleos familiares. No entanto, a existência dessa organização e a sua importância político-social demonstra uma mudança nos costumes e nas perspectivas quanto ao conservadorismo.

O grupo também atua em palestras e parcerias com empresas e associações, além de atuarem nas Paradas LGBTs de diversas cidades. Com mais de 133.000 curtidas na página do nacional do Facebook, o grupo ainda divide, para cada regional, uma página privada e fechada para discussão de projetos e experiências de militância entre as mães. Trata-se, portanto, de um trabalho realizado tanto nas esferas públicas, quanto nas privadas.

“Ainda temos muito trabalho a fazer. Acolhimento e amor são as palavras de ordem que nos move.” – descreve Paola Porto. Para mais informações sobre o coletivo, acesse as páginas “Mães Pela Diversidade” no Facebook, no Instagram e no Twitter.

ANOTE AÍ

Fonte: Agência de Notícias das Favelas

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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