Manoel de Barros: O Apanhador de Desperdícios
Um dos mais belos poemas do escritor pantaneiro Manoel de Barros, O Apanhador de Desperdícios é um hino às coisas simples do bem-viver no mundo da invencionática.
O Apanhador de Desperdícios
Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas.
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.
Manoel de Barros – Poeta pantaneiro nascido em 1916. Teve o bioma Pantanal por grande tema. Definiu sua arte como vanguarda primitiva. Encantou-se em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, em 13 de novembro de 2014, aos 97 anos de idade.
SOBRE A TERRA PANTANEIRA DE MANOEL DE BARROS
O Pantanal é a maior área alagadiça de água doce do mundo.
Seus 176,2 km2 da planície pantaneira são inundados pelos afluentes do Rio Paraguai e servem de habitat para 650 espécies de aves (colhereiros, garças, tuiuiús).
No Pantanal vivem 80 espécies de mamíferos (ariranhas, macacos, onças, etc.), 260 tipos de peixes (dourado, piauçu, piraputanga) e 50 espécies de répteis (jacaré, tartaruga, sucuri).
As terras pantaneiras fazem parte do Pantanal, bioma com 250 km2, situado no sul de Mato Grosso, nordeste do Mato Groso do Sul, norte do Paraguai e leste da Bolívia.
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