Não teve Apê de JK, não tem Apê de Lula: “Sei é que, sem prova, pode se supor muita coisa. Mas condenar por suposição não é fazer justiça.”
Ante a condenação sem crime e sem provas de Lula, começam a aparecer registros documentados de outras perseguições históricas a outros líderes brasileiros.
Nesses últimos dias, dois textos surgiram sobre a semelhança entre o suposto Apê de JK, que nunca existiu mas serviu de desculpa para barrar sua volta à Presidência, e a condenação de Lula, no dia 24 pelo TRF4, pela suposta propriedade de um apartamento no Guarujá, há pouco penhorado por uma juiza de Brasília para pagar dívidas da empreira OAS, sua real proprietária.
Para contribuir com a reflexão coletiva, reproduzimos os dois textos que circulam na internet:
Comentário do Jaime Sautchuk no Facebook:
No regime militar, quando o general-presidente Ernesto Geisel anunciou a “abertura lenta, gradual e segura”, ele queria dizer que poderia haver democracia, mas não tanto.
Era preciso evitar, por exemplo, que lideranças democráticas ressurgissem com força. A lupa estava em Juscelino Kubitscheck, que passou a ser ainda mais cercado, até sua morte, em agosto de 1976.
É impressionante como o sentido estratégico do cerco feito a JK se parece com o que se faz agora a Lula. Até um apartamento de empreiteira tinha, de três quartos, sem luxo. Com algumas diferenças, porque os milicos faziam e aconteciam sem dar muita atenção a ninguém.
Agora não, tem a contribuição de setores logísticos do Judiciário, que cumprem bem o papel. Mas o objetivo é o mesmo: se não podem matar, querem aleijar… Pois, pois.
JK – Inauguração de Brasília – Acervo O Globo
Matéria do Jornal GGN (https://jornalggn.com.br/noticia/na-ditadura-jk-foi-acusado-de-ser-dono-de-imovel-em-nome-de-amigo-por-mario-magalhaes)
Em seu blog no UOL, o jornalista Mário Magalhães relembra as acusações contra Juscelino Kubitschek a respeito de um apartamento na avenida Vieira Souto, em Ipanema, no Rio de Janeiro.
Magalhães levanta recortes de jornais da época, relembrando que JK deve a vida “devassada” após o golpe militar e a cassação de seu mandato como senador. “As autoridades o acusaram de um sem-número de falcatruas, como se fosse um ladrão voraz”, também mostrando que a imprensa deu força para as acusações do regime militar.
O apartamento estava em nome de uma empresa controlada pelo banqueiro Sebastião Pais de Almeida, amigo de Juscelino Kubitschek. Apesar das acusações, não houve julgamento na Justiça comum, e o procurador considerou que não existiam provas de que JK fosse o dono do apartamento. Leia mais abaixo:
Depois de deixar a Presidência, Juscelino Kubitschek (1902-1976) foi morar num apartamento novinho em folha na avenida Vieira Souto, Ipanema, o metro quadrado mais caro do país.
A empreiteira que ergueu o prédio havia tocado na região Sul uma obra concedida pela administração JK (1956-1961).
O projeto arquitetônico do prédio foi desenhado por Oscar Niemeyer, que nada cobrou pelo serviço.
Mais de uma vez o ex-presidente visitou as obras do apê que viria a ocupar.
Idem sua mulher, dona Sarah, que pediu numerosas alterações no projeto original.
Um mestre de obras foi afastado, devido a reclamações da antiga primeira-dama.
O imóvel era espaçoso. Jornais publicariam que tinha 1.400 metros quadrados, o que parece exagero. Mas nele JK chegou a discursar para centenas de pessoas.
Juscelino pagava um aluguel irrisório ou morava de graça _as versões variam.
O apartamento em frente ao mar estava em nome de uma empresa controlada pelo banqueiro Sebastião Pais de Almeida.
Multimilionário, o empresário era amigo de JK, em cujo governo havia sido ministro da Fazenda.
Em junho de 1964, a ditadura recém-instalada cassou o mandato de senador de Juscelino e suspendeu seus direitos políticos por dez anos.
O ex-presidente teve a vida devassada, investigado em inquéritos policiais militares.
As autoridades o acusaram de um sem-número de falcatruas, como se fosse um ladrão voraz.
A acusação de maior apelo entre os opositores do ex-governante era a de que, na verdade, o apartamento da Vieira Souto era de Juscelino.
Sem renda para justificar tamanha ostentação, o ex-presidente “corrupto” teria preferido ocultar o patrimônio.
Portanto, Sebastião Pais de Almeida seria um laranja. Atípico, tal a sua fortuna, mas laranja.
Certa imprensa fez um Carnaval, chancelando as acusações da ditadura, como se vê em títulos de jornal reproduzidos neste post.
Na Justiça comum, nem julgamento houve.
O procurador considerou não haver provas de que Juscelino fosse o dono do apartamento.
E enumerou provas de que o imóvel pertencia mesmo a Sebastião Pais de Almeida, que o emprestara ao amigo JK.
O juiz mandou arquivar o processo.
Dei com as notícias _onze, abaixo e acima_ na apuração do meu próximo livro, sobre Carlos Lacerda (1914-1977), cujo triplex na praia do Flamengo foi alvo dos seus adversários.
Os recortes integram o acervo do velho SNI, Serviço Nacional de Informações, criado justamente em junho de 1964. Estão no Arquivo Nacional.
É certo que outras publicações jornalísticas trataram do apartamento onde a família Kubitschek vivia.
Mas eu reproduzo o que tenho à mão, a papelada sobre Juscelino selecionada pelos arapongas.
O nome do jornal que veiculou cada texto é identificado pelos burocratas do SNI na folha de papel onde os recortes foram colados.
Há um caso em que não se informa qual é o jornal.
E outro em que o título foi manuscrito.
Hoje, Juscelino Kubitschek é considerado grande brasileiro.
Dona Sarah dá nome à rede de hospitais de reabilitação.
Lula
A história do apartamento que não era de JK significa que o triplex do Guarujá não pertence ao ex-presidente Lula? Não necessariamente. Desconheço minúcias do inquérito e do processo sobre o petista. Isso é com a polícia, o Ministério Público e a Justiça. Sei é que, sem prova, pode se supor muita coisa. Mas condenar por suposição não é fazer justiça.
Promiscuidade
Tanto no caso de JK quanto no de Lula há indícios de promiscuidade entre agentes públicos e privados. Tal promiscuidade é condenável e faz mal ao Brasil. Se é sempre crime ou não, são outros quinhentos.
ANOTE AÍ:
Ao contrário de JK, que também ficou provado que não era dono do Apê, Lula sequer morou no Apê do Guarujá, nem há uma única prova de que tenha negociado a propriedade. A condenação, como nos tempos de JK, serve a interesses outros que não os da Justiça.
Uma resposta
Tudo isso é por ele ser revolucionário.