O desmonte da Petrobrás e o assalto ao povo
O primeiro grande efeito da guerra em nossa economia se materializou, esta semana, com o anúncio pela Petrobrás de um novo aumento nos preços dos combustíveis, 18,8% na gasolina, 24,9% no óleo diesel e 16,1% no gás de cozinha. A inflação, que já atingiu 10,54%, será duramente impactada com novos aumentos na taxa básica de juros, mais endividamento público, mais restrições ao crédito, inadimplência e queda no nível de investimentos e na atividade econômica.
Como, desde o golpe contra a presidente Dilma, e como consequência da Lava Jato, a Petrobrás passa por um processo de completo esquartejamento, a empresa não tem mais capacidade de cumprir o papel estratégico de contenção do impacto da variação do preço internacional do petróleo no mercado interno. A Lava Jato e o projeto Temer-Bolsonaro subordinaram a Petrobras aos interesses das 392 empresas importadoras de petróleo e dos
A Política de Preço de Paridade de Importação (PPI) dolarizou o preço dos combustíveis no Brasil e relegou a Petrobrás, que descobriu, nos governos do PT, o pré-sal – as maiores reservas de petróleo do século 21-, a condição de empresa exportadora de óleo cru. Por isso, neste momento crítico de forte alta dos combustíveis no mercado internacional, a Petrobras não tem mais capacidade de atuar para regular os preços dos derivados no mercado interno.
A verdade é que as privatizações, a diminuição de carga de processamento e a redução dos investimentos em refino levadas a cabo pela Petrobrás tornaram o Brasil dependente da importação de cerca de 30% da gasolina, do diesel e do gás. Da mesma forma, o cancelamento de projetos, o arrendamento de unidades e a redução de investimentos fazem com que importemos mais de 80% dos fertilizantes que utilizamos.
Mas, à medida que a situação econômica se agrava, o governo Bolsonaro entra em uma nova etapa, a fase de acelerar os ajustes neoliberais acompanhado pelo populismo eleitoral. Para tentar se viabilizar eleitoralmente depois da tragédia que tem sido o desgoverno até agora, com menção especial à condução desastrosa da pandemia, Bolsonaro adota uma política econômica que pretende acelerar as privatizações e ao mesmo tempo, sem qualquer responsabilidade ou estratégia sustentável, arma uma verdadeira bomba fiscal para o futuro governo.
Para ficar em alguns exemplos, podemos mencionar a PEC dos Precatórios, com impacto de R$ 44 bilhões, e a pedalada no reajuste dos servidores. Há também o aumento de despesas como o Vale Gás para 11 milhões de famílias, o reajuste de 10% no salário mínimo, a ampliação da cobertura do Auxílio Brasil, a liberação de R$ 8 bilhões de contas inativas do Bacen, R$ 22 bilhões do FGTS, a anistia do Fies e a abertura de mais de R$ 100 bilhões em linhas de crédito.
Bolsonaro poderá tentar alguma medida demagógica para segurar temporariamente e de forma artificial o preço dos combustíveis. Estão em debate no Congresso Nacional medidas que procuraram mitigar os aumentos, mas que deveriam utilizar a própria cadeia produtiva do petróleo para constituir um fundo estratégico que permita alguma regulação dos preços, como a tributação sobre as exportações de óleo cru e a tributação dos dividendos e ganhos extraordinários da Petrobras, que vem batendo os recordes históricos no pagamento de dividendos. Entretanto, essas alternativas foram retiradas do projeto original no Senado e o que está avançando é a retirada de recursos fiscais do orçamento público, incluindo estados e municípios, para subsidiar os combustíveis. É inaceitável.
É evidente que não podemos sacar dinheiro do orçamento para financiar o lucro dolarizado dos acionistas privados da Petrobrás. Como já dissemos, o país enfrenta a menor taxa de investimentos públicos em décadas, está com 12 milhões de desempregados e 19 milhões de pessoas passando fome e atravessa uma tragédia na educação e na saúde.
Bolsonaro tenta a todo o custo reverter o descalabro de três anos de retrocessos e de desgoverno com medidas desesperadas de irresponsabilidade fiscal. Mas, a força do legado dos nossos governos e a liderança de Lula, que ainda pulsam nas “veias abertas” do povo brasileiro, derrotarão o governo da extrema direita, agora acompanhado de populismo neoliberal. Temos muita luta pela frente, e dela dependerá um projeto portador de futuro para o Brasil.