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OS PÁSSAROS ESTÃO A DESAPARECER DOS CAMPOS DA EUROPA

OS PÁSSAROS ESTÃO A DESAPARECER DOS CAMPOS DA EUROPA

Os pássaros estão a desaparecer dos campos da Europa

Por conta dos pesticidas, desaparecem os pássaros dos campos da Europa

Por  /Publico
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Na terça-feira, o Le Monde dava a notícia. Dois estudos franceses, um do Museu Nacional de História Natural, outro do Centro Nacional de Pesquisa Científica, feitos de forma independente e aplicando metodologias diferentes, apontavam para as mesmas conclusões. Nos últimos 15 anos, desapareceu um terço da população de aves nas zonas campestres do interior do país – a perdiz registou um decréscimo de 80%, a migratória petinha-dos-prados diminui a sua presença em 70% e um quarto das cotovias também desapareceu. Em Inglaterra, noticiava o Guardian na quarta-feira, a situação é igualmente alarmante: 56% da população de pássaros rurais perdida entre 1970 e 2015. A situação é descrita no jornal inglês como “catastrófica”, o francês alerta para a “proximidade de uma catástrofe ecológica”.

Em Portugal, diz ao PÚBLICO Joaquim Teodósio, coordenador do Departamento de Conservação Terrestre da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), o panorama não será substancialmente diferente. “Confirma-se esse declínio das espécies associadas aos habitats agrícolas, embora, pela falta de recolhas no terreno, seja difícil ter dados robustos para a maioria das espécies”. Ainda assim, é possível classificar como “preocupante”, por exemplo, a situação da rola-brava e do picanço barreteiro: entre 2004 e 2014, registou-se um decréscimo de 54% e 65% nas respectivas populações de pássaros.
O declínio deve-se a um conjunto de factores, centrados nas políticas promovidas pela Política Agrícola Comum (PAC) da União Europeia (EU). A generalização de pesticidas, em particular os neonicotinóides, tem dizimado as populações de insectos de que muitas espécies de pássaros se alimentam. No ano passado era notícia o decréscimo na ordem dos 75% de insectos voadores nas reservas naturais alemãs e, no artigo do Le Monde, surge a informação de que a população das vulgares carochas decresceu 85% nos últimos 23 anos.
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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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