O pedido para arquivar o projeto foi feito pela senadora do Rio Grande do Norte Fátima Bezerra (PT-RN). Junto da senadora durante a sessão estava Daniel Cara, como representante do Coletivo Paulo Freire por uma Educação Democrática, principal articulador na campanha pela manutenção do nome de Freire.
As Sugestões Legislativas surgem a partir de petições públicas informais, e devem ter no mínimo 20 mil assinaturas para serem acolhidas pelo Senado.
O abaixo-assinado foi redigido por uma estudante de direito e membro do Escola Sem Partido, e teve amplo apoio do Movimento Brasil Livre. Se validada, ganharia a força de um Projeto de Lei.
A ofensiva contra o nome e o legado de Paulo Freire provocou intensa reação na sociedade. O Coletivo lançou um manifesto pela manutenção do título ao educador, com aderência de milhares de educadores, pesquisadores, políticos, filósofos e sociedade em geral.
A partir do manifesto outras ações foram articuladas, e contribuíam para que a intenção do projeto ultraconservador fosse rejeitada. Cara avaliou como “vitória a decisão da Comissão de Direitos Humanos contra o Escola Sem Partido e o obscurantismo.”
Ao final da sessão, a senadora afirmou que “só alguém que desconhece a grandiosidade da vida e da obra de Paulo Freire na luta pela educação no Brasil e no mundo pode representar um recurso de maneira estupida como esse.”
SOBRE PAULO FREIRE
Paulo Freire (Recife, 19-09-1921 – São Paulo, 02-05-1997) é um educador internacionalmente reconhecido, sendo um dos mais proeminentes nomes da Pedagogia e das Ciências Humanas.
Foi laureado com 41 títulos de doutor honoris causa por universidades distribuídas por todo o mundo e intitulado professor emérito de cinco universidades, incluindo a Universidade de São Paulo (USP).
Formado em Direito pela Faculdade do Recife, Paulo Freire tornou-se educador libertário, dedicado à educação e, em especial, ao combate do analfabetismo no Brasil. Seu livro “Educação como Prática da Liberdade” é um hino à educação libertadora no Brasil e no mundo inteiro.
Para alfabetizar os excluídos, criou o Método Paulo Freire, baseado em palavras simples do vocabulário de cada local, cada região.
Método Paulo Freire
Seu método, aplicado por ele mesmo, primeiramente no Rio Grande do Norte, em 1963, mostrou que uma pessoa adulta pode aprender a ler e a escrever em 45 dias.
O governo João Goulart, deposto em 1964, havia encomendado a Paulo Freire um plano para a erradicação do analfabetismo do Brasil. O golpe de 1964, não só o prendeu por 72 dias, mas o obrigou a sair do Brasil. Exilado no Chile, trabalhou no Instituto Chileno para a Reforma Agrária (ICIRA). Durante seus cinco anos de trabalho no Chile, escreveu e publicou, em 1968, uma de suas obras primas, o livro “Pedagogia do Oprimido”.
Em 1969, lecionou na Universidade de Harvard (Estados Unidos), e na década de 1970, foi consultor do Conselho Mundial das Igrejas (CMI), em Genebra (Suíça). Nesse período, deu consultoria educacional a governos de países pobres, a maioria no continente africano, que viviam na época um processo de independência.
No final de 1971 fez sua primeira visita a Zâmbia e Tanzânia. Em seguida, passou a ter uma participação mais significativa na educação de Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe. E também influenciou as experiências de Angola e Moçambique.
Pedagogia da Esperança
Em 1980, depois de 16 anos de exílio, retornou ao Brasil, onde escreveu dois livros tidos como fundamentais em sua obra: “Pedagogia da Esperança” (1992) e “À Sombra desta Mangueira” (1995).
Lecionou na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Em 1989, foi secretário de Educação no Município de São Paulo, sob a prefeitura de Luíza Erundina.
Doutor Honoris Causa por 27 universidades, Freire recebeu prêmios como: Educação para a Paz (das Nações Unidas, 1986) e Educador dos Continentes (da Organização dos Estados Americanos, 1992).
Também foi agraciado com títulos conferidos pela comunidade internacional, como o prêmio da Unesco de Educação para a Paz, em 1986. Secretário municipal de Educação entre 1989 e 1991, é ainda hoje considerado o melhor gestor educacional da história paulistana, aclamado presidente de honra da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime).
“Pedagogia do Oprimido” (1968), considerada sua obra-prima, é a terceira mais citada em toda a literatura das ciências humanas, segundo pesquisa realizada por Elliott Green, professor associado à London School of Economics.
VERDADE DA PROFISSÃO DE PROFESSOR Por Paulo Freire
Ninguém nega o valor da educação e que um bom professor é imprescindível.
Mas, ainda que desejem bons professores para seus filhos, poucos pais desejam que seus filhos sejam professores.
Isso nos mostra o reconhecimento que o trabalho de educar é duro, difícil e necessário, mas que permitimos que esses profissionais continuem sendo desvalorizados.
Apesar de mal remunerados, com baixo prestígio social e responsabilizados pelo fracasso da educação, grande parte resiste e continua apaixonada pelo seu trabalho.
A data é um convite para que todos, pais, alunos, sociedade, repensemos nossos papéis e nossas atitudes, pois com elas demonstramos o compromisso com a educação que queremos.
Aos professores, fica o convite para que não descuidem de sua missão de educar, nem desanimem diante dos desafios, nem deixem de educar as pessoas para serem “águias” e não apenas “galinhas”.
Pois, se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda.