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POESIA MARGINAL

POESIA MARGINAL

Poesia marginal

A Poesia Marginal foi uma nova concepção artística que surgiu na década de setenta, durante um período de forte repressão e censura imposta pela ditadura militar.

Por Flávia Neves

Esse período cultural, também chamado de Geração Mimeógrafo, foi marcado pelo inconformismo com a considerada “cultura oficial”, alterando o comportamento do poeta face à sociedade.

O poeta passou a ser totalmente responsável pela criação, reprodução e divulgação da sua poesia. Fora dos meios habituais de edição e divulgação das obras, usavam os seus próprios meios para reproduzir e divulgar os seus poemas. Utilizavam mimeógrafos para copiar seus textos e realizar pequenas tiragens que eram comercializadas a baixo custo, de mão em mão.

Principais características da Poesia Marginal

  • Inconformismo com “cultura oficial” brasileira;
  • Inconformismo com os moldes literários impostos pela academia;
  • Inconformismo com a censura imposta pela ditadura;
  • Proposta de uma constante inovação poética, pautada pela inventividade artística e a vitalidade criativa;
  • Inspiração nos movimentos de contracultura;
  • Elogio de uma produção cultural que estivesse fora dos padrões;
  • Busca de uma nova forma de divulgação da arte e da cultura brasileira;
  • Organização da poesia em estruturas rápidas que aliassem texto e elementos visuais;
  • Promoção de leituras imediatas, com conteúdos facilmente assimiláveis;
  • Utilização de uma linguagem coloquial, revestida de sarcasmo, ironia, humor, gírias e, inclusivamente, palavrões.

Principais poetas da Poesia Marginal

  • Chacal;
  • Cacaso;
  • Ana Cristina César;
  • Paulo Leminski;
  • Francisco Alvim;
  • Torquato Neto;
  • Waly Salomão;
  • José Agripino de Paula.

Alguns poemas da Poesia Marginal

Tenho uma folha branca
e limpa à minha espera:

mudo convite

tenho uma cama branca
e limpa à minha espera:

mudo convite

tenho uma vida branca
e limpa à minha espera.
(Ana Cristina César)

Rápido e rasteiro

vai ter uma festa
que eu vou dançar
até o sapato pedir pra parar.

aí eu paro
tiro o sapato
e danço o resto da vida.
(Chacal)

Amor bastante

quando eu vi você
tive uma ideia brilhante
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante

basta um instante
e você tem amor bastante
(Paulo Leminski)

Fonte: Norma Culta

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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