Quem mandou matar Ari Uru-Eu-Wau-Wau? E Por Quê?
Por Zezé Weiss
De 17 pra 18 de abril de 2020, a rede de um guerreiro indígena dormiu vazia na Aldeia 621 Jaikara da Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau. Na manhã do dia 18, o corpo do guardião da floresta Ari Uru-Eu-Wau-Wau, 33 anos, casado, dois filhos, de 12 e 14 anos, foi encontrado sem vida, na Linha 625 do Distrito de Tarilândia, no município de Jaru, a 292 quilômetros de Porto Velho.
Conforme o Boletim de Ocorrência (BO) da Polícia Civil, que trata a morte como homicídio, Ari foi encontrado de peito pra baixo, com o corpo mutilado por quatro golpes de um objeto contundente, sangramento na boca e uma grande marca na nuca. Os parentes suspeitam que, devido à grande quantidade de sangue encontrada no local, depois de ser pego na tocaia, Ari tenha sido arrastado pela estrada, enquanto tentava resistir.
As pancadas no corpo indefeso do resistente da floresta causaram a hemorragia interna aguda que tirou Ari Uru-Eu-Wau-Wau dos espaços deste mundo, atesta o laudo do Instituto Médico Legal, que classifica a causa mortis como indefinida. “Foi assassinato, não foi acidente, Ari já vinha sofrendo ameaças há meses”, afirmam familiares e militantes do movimento indígena na região. Resta saber quem mandou matar Ari Uru-Eu-Wau-Wau, e por quê?
QUEM MANDOU MATAR ARI URU-EU-WAU-WAU? E POR QUÊ?
Ari Uru-Eu-Wau trabalhava no Grupo de Vigilância do Povo Indígena Uru-Eu-Wau-Wau. Assim como seu primo, Awapu Uru-Eu-Wau-Wau, liderança que também já sofreu várias ameaças de morte no Estado, o trabalho de Ari era registrar e denunciar a extração ilegal de madeira na Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau e dentro de sua própria aldeia.
Mortes como a de Ari fazem parte do massacre sofrido pelas lideranças indígenas por sua luta de resistência em defesa da Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau. Com seus 1.867.117 hectares, a T.I. Uru-Eu-Wau-Wau foi demarcada em 1991. Entretanto, a ofensiva da grilagem sobre a área, que também já foi alvo de títulos expedidos irregularmente pelo Incra para trabalhadores rurais, cujas consequências se arrastam até hoje, remonta à década de 1970.
A partir de 2016, aumentaram os desmatamentos causados por uma nova onda de grilagem na região. De lá pra cá, a situação só piora. Em março de 2017, ano em que a Polícia Federal começou a realizar operações de combate a crimes ambientais e de retirada de invasores, uma reportagem da Amazônia Real mostrou que grileiros e autoridades fizeram reuniões dentro de um posto da Funai localizado na Terra Indígena. Desde então, a violência aumentou e as invasões nunca mais cessaram.
Para encontrar e punir quem matou Ari Uru-Eu-Wau-Wau, basta seguir a rota da grilagem, que ocorre com a participação de autoridades governamentais e de políticos, afirmam lideranças indígenas e dos movimentos de apoio aos Uru-Eu-Wau-Wau.
PARA QUE NINGUÉM SE ESQUEÇA
O assassinato de Ari Uru Eu-Wau-Wau expõe a triste realidade da violência instalada contra os povos indígenas do Brasil que, cercados por grileiros e pistoleiros, são alvos frequentes de ataques, invasões e mortes sob o olhar conivente e complacente do governo genocida de turno, “que incentiva a grilagem das terras indígenas”, segundo lideranças locais.
No dia 19 de abril deste ano de 2021, a Associação Kanindé e outros movimentos de apoio aos Uru-Eu-Wau-Wau, que há 30 anos lutam contra a invasão de suas áreas; em memória de Ari Uru-Eu-Wau-Wau e para denunciar os incessantes esforços de extermínio dos povos indígenas de Rondônia e do Brasil, farão uma manifestação em frente ao Tribunal de Justiça, em Porto Velho.
Portando cruzes com os nomes dos cinco indígenas assassinados e dos dois que morreram em decorrência da Covid-19 recentemente, “o protesto pretende sensibilizar a sociedade local e nacional pelo massacre de indígenas, seja pela violência da grilagem, seja pela omissão da pandemia, que também é uma forma de extermínio, ” afirma Ivaneide Bandeira, da Associação de Defesa Socioambiental, a Kanindé.
Imagens: Acervo Kanindé