Romanceiro da Inconfidência: “Libertas Quae Sera Tamen”
A obra Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles, foi publicado em 1953, e escrito na década de 1940 quando sua autora, então jornalista, chegou a Ouro Preto, com a finalidade de documentar os eventos de uma Semana Santa. Assim, envolvida pela “voz irreprimível dos fantasmas”, conforme dissera, passou a reescrever, de forma poética, os episódios marcantes da Inconfidência Mineira, destacando, evidentemente, o martírio de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, personagem principal da obra.
Por Cecília Meireles
(Excertos)
vêm almas dos cemitérios:
todos pedem ouro e prata,
e estendem punhos severos,
mas vão sendo fabricadas
muitas algemas de ferro”
todos pedem ouro e prata,
e estendem punhos severos
Eis o retrato da violência!
Ó meio-dia confuso
ó vinte-e-um de abril sinistro,
que intrigas de ouro e de sonho
houve em tua formação?
Quem condena, julga e pune?
Quem é culpado e inocente?
Homem ou mulher? Quem soube?
Veio por si? Foi mandado?
A que horas foi? De que noite?
Visto ou sonhado?
Em baixo e em cima da terra
o ouro um dia vai secar.
Toda vez que um justo grita,
um carrasco o vem calar.
Quem sabe não presta, fica vivo,
quem é bom, mandam matar. (Romance V)
Ai, terras negras d´África,
portos de desespero…
– quem parte, já vai cativo;
– quem chega, vem por desterro. (Romance LXVII)
A terra tão rica
e – ó almas inertes! –
- o povo tão pobre…
- Ninguém que proteste! (…) (in: Do animoso Alferes, Romance XXVII)
-
- Estes branquinhos do Reino
- nos querem tomar a terra:
- porém, mais tarde ou mais cedo,
- os deitamos fora dela. (in: ‘Do sapateiro Romance XLII)
INTERTEXTUALIDADE
“Exaltação a Tiradentes” – samba-enredo da Escola de Samba Império Serrano, em 1949, de Mano Décio da Viola, Penteado e Stanislaw Silva:
Joaquim José da Silva Xavier
Morreu a vinte e um de abril
Pela independência do Brasil
Foi traído e não traiu jamais
A Inconfidência de Minas Gerais
Foi traído e não traiu jamais
A Inconfidência de Minas Gerais
Joaquim José da Silva Xavier
Era o nome de Tiradentes
Foi sacrifica…do pela nossa liberda…..de
Este grande herói
Filme Os Inconfidentes, de Joaquim Pedro de Andrade (1972). A Inconfidência Mineira – conspiração independentista do século dezoito, em Minas Gerais, centro das riquezas coloniais. Do grupo, faziam parte poetas e nobres, incluindo o padre e o coronel da guarnição. O dentista Tiradentes é torturado, para que divulgue a sua participação, na conjura contra a coroa portuguesa; os cúmplices já haviam confessado, negando responsabilidades próprias. Tiradentes é o único a assumir-se plenamente, sendo condenado à morte. Baseado em “Autos da Devassa” de Tomás Antonio Gonzaga, Cláudio Manuel da Costa e Alvarenga Peixoto. E “Romanceiro da Inconfidência” de Cecília Meireles. Enunciação de flashes cinematográficos.
Museu da Inconfidência – No museu é retratada a Inconfidência Mineira (1789), movimento pela Independência do Brasil baseado na Independência Americana, e que não teve sucesso, devido a sua delação. O Museu possui objetos do final do século XVIII (travas da forca de Tiradentes), utilizados por inconfidentes, ou do cotidiano dos trabalhadores e civis da cidade. O museu se localiza na praça Tiradentes, em frente ao monumento a Joaquim José da Silva Xavier, principal e mais famoso ativista da Inconfidência.
Fonte: PasseiWeb