TEREZA DE BENGUELA: LIÇÃO DE CIDADANIA

TEREZA DE BENGUELA: LIÇÃO DE CIDADANIA

Tereza de Benguela: Lição de

Rainha Tereza, negra e bela, heroína do povo, ícone para as do país. Retrata o orgulho e a força de seu povo. Veio de uma província de nome Benguela, no oeste de Angola, África.

Por Iêda Vilas-Boas 

Tereza viveu no Século XVIII no Vale do Guaporé, no Mato Grosso, e foi líder do Quilombo de Quariterê, hoje essa localidade seria na capital Cuiabá.

O lugar abrigava mais de 100 pessoas, em sua maioria negras. Ainda fazia parte do quilombo um grupo de índios. Foi respeitada como rainha e possuía uma imensa sabedoria para lidar com seu povo. Foi conselheira, sábia, raizeira, , e mantinha avançadas técnicas de recrutamento e de governança.

Tereza regia baseada numa espécie de Parlamento, com um forte sistema de defesa interno. Quariterê cultivava o algodão e era produtor de tecidos. Sob a liderança de Tereza de Benguela, realizava-se este comércio e também de outras plantações.

Tudo o que se colhia ou produzia era destinado à comunidade, sob a inspeção de Tereza e de seus comandados, comparados ao que hoje conhecemos por deputados.

Seu companheiro, José Piolho, era o segundo líder e chefe dos Conselheiros. Conta-se que este foi morto por soldados quando da invasão do quilombo e que Tereza sofreu profundamente a perda de seu companheiro.

As reuniões do Conselho, composto por representantes das famílias locais, aconteciam em prévios dias específicos da semana, e a comunidade assistia às decisões tomadas. Tereza presidia este Conselho e também as reuniões. As ordens dadas por ela eram executadas e seguidas à risca, sob o prejuízo de punição pela “rainha”.

O quilombo e modelo de governo estabelecido por Tereza de Benguela persistiu por quase 25 anos. Dizem que ela cometeu suicídio ao ser capturada. Registros históricos contam da líder, depois de morta, com a cabeça decepada e exposta no meio da praça do quilombo, servindo de exemplificação a todos os rebeldes.

Mais que exemplo, Tereza de Benguela foi lição de cidadania.

ieda villas boas

Iêda Vilas-Boas (in memoriam) – Escritora , encantada em 8 de abril de 2022. Texto em homenagem a Tereza de Benguela, escrito, provavelmente, em 2020. Em sua , publicado nesta edição 117 da , para celebrar o 25 de julho, Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. Dia de Tereza de Benguela. 

25 DE JULHO – DIA DA MULHER NEGRA LATINO-AMERICANA E CARIBENHA 

O Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha nasceu em 1992 em um encontro de mulheres negras em Santo Domingos, na República Dominicana. Elas definiram a data e criaram uma rede para pressionar a Organização das Nações Unidas (ONU) a assumir a contra as opressões de raça e gênero.

A população negra no Brasil corresponde a maioria, 54%, segundo o IBGE. De acordo com a Associação de Mujeres Afro, na e no Caribe, 200 milhões de pessoas se identificam como afrodescendentes. Porém, tanto no Brasil quanto fora dele, essa parcela populacional, principalmente as mulheres, também é a que mais sofre com violência.

A mulher negra é, ainda hoje, a principal vítima de feminicídio, das violências doméstica, obstétrica e da mortalidade materna, além de estar na base da pirâmide socioeconômica do país.

Em busca de refletir e mudar esse cenário, as amefricanas – mulheres afrodescendentes nas Américas são chamadas de amefricanas por Lélia Gonzales, não apenas por partilharem o mesmo espaço geográfico, mas também o histórico e – se reuniram em 1992 para o Encontro de Mulheres Negras Latinas e Caribenhas.

Desse encontro nasceu a Rede de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas. A Rede, junto à ONU lutou para o reconhecimento do dia 25 de julho como o Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha.

“Do México e ilhas do Caribe pra baixo, os países da América Latina têm uma constituição comum, que nega o racismo e são essencialmente racistas. O ponto comum das amefricanas é o anúncio do racismo e sexismo, as mulheres negras são vítimas de dupla opressão e estão reivindicando isso”, explica Raquel Barreto, historiadora e pesquisadora. 

TEREZA DE BENGUELA: LIÇÃO DE CIDADANIA
Cartaz: Reprodução/Internet

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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