UMA POLÍTICA EXTERNA ATIVA E ALTA

UMA POLÍTICA EXTERNA ATIVA E ALTA

Uma política externa ativa e alta

Uma política externa ativa e alta. Assim, o ex-ministro das Relações Internacionais do Brasil, Celso Amorim, descreve a política que ele mesmo formulou. Foi uma política que fez o Brasil se projetar como um grande sujeito da política mundial e o próprio Lula como um grande líder internacional

Por Emir Sader 

Assim, o ex-ministro das Relações Internacionais do Brasil, Celso Amorim, descreve a política que ele mesmo formulou. Foi uma política que fez o Brasil se projetar como um grande sujeito da política mundial e o próprio Lula como um grande líder internacional.

A guerra na Ucrânia foi um novo teste para essa política. O Brasil condenou a invasão russa da Ucrânia, mas, ao mesmo tempo, rejeitou a proposta dos Estados Unidos e da Alemanha de que o país enviasse armas para a Ucrânia.

Lula tem afirmado que essa seria uma forma de participar da guerra. A posição do Brasil é condenar a guerra e trabalhar para acabar com o conflito. Lula propôs a constituição de um Grupo de Paz, do qual participariam, além do Brasil, China, África do Sul, Índia, entre outros.

Lula colocou em prática uma política internacional extremamente ativa, desde que a devolveu à presidência do Brasil. Esteve com o presidente norte-americano Joe Biden nos EUA, com o primeiro-ministro alemão Olaf Scholz no Brasil, com os presidentes da América Latina na reunião da Celac na Argentina.

O Brasil organizará a Reunião do G20 em 2024, para a qual Lula já convidou o presidente do Uruguai. O Brasil vai receber o presidente da França, Emmanuel Macron, no Brasil. E encontrou-se com o presidente da China, Xi Jinping, em Pequim.

A prioridade da política externa brasileira é a unificação da América Latina e do Caribe, bem como a integração do Sul do mundo. De um lado, fortalecer o Mercosul, a Unasul e a Celac. Para ampliar o processo de integração latino-americana, o Brasil propôs a criação de uma moeda comum sul-americana – o Sur -, com um Banco Central Sul-Americano, para o qual o Brasil colocaria suas reservas como garantia.

Para a integração do Sul do mundo, o Brasil centraliza suas ações no Brics, que tem na aliança com Rússia e China, na luta contra a hegemonia imperial norte-americana e em prol de um mundo multipolar.

Essa política brasileira depende, em parte, das eleições argentinas de outubro deste ano. Se houver continuidade dos governos peronistas, a capacidade de ação do Brasil será fortalecida, principalmente no continente. Se a direita voltar ao governo da Argentina, Lula será buscado pelo novo presidente, mas sem as identidades que teve até aqui.

emir saderEmir Sader – Sociólogo. Cientista político. Colunista do Brasil 247, fonte desta matéria. Membro do Conselho Editorial da Revista Xapuri. Foto: Ricardo Stuckert.

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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