A saga da Coluna Prestes na região do Planalto Central  

As primeiras décadas do República foram marcadas por inúmeros movimentos políticos e sociais, a exemplo da Revolta da Chibata, Revolta da Vacina, Semana da Arte Moderna, Constitucionalista. Nesse cenário político bastante agitado se formou a Coluna Prestes, no ano de 1924.

Ponto culminante de outro movimento militar, o Tenentismo, organizado para derrubar a elite agrária que dominava o país, assolado por imensa , e promover um conjunto de reformas institucionais, a Coluna Prestes foi constituída por militares envolvidos em movimentos rebeldes no Rio Grande do Sul e em São Paulo. O comando militar da Divisão Revolucionária, composta por 1.500 homens armados, ficou a cargo de Miguel Costa, sendo Luís Carlos Prestes o chefe do -maior.

Depois de adentrar terras paraguaias e passar pelo Mato Grosso, a Divisão Miguel Costa penetra em território brasileiro, na região de Cabeceira Alta e, em junho de 1925, transpõe a Serra dos Caiapós e domina a cidade de Mineiros (GO), começando sua investida sobre o estado.

Acossados pela tropa do major mato-grossense Bertoldo Klinger, os revolucionários passaram pela cidade de Goiabeiras (Inhumas) e seguiram rumo à estrada que ligava Anápolis a Corumbá. Segundo Sílvio Fleury, “o plano de defesa de Corumbá estava sendo executado, quando a cidade recebeu a Coluna Caiado com seus mil e duzentos voluntários e foi transformada em base operacional”. Foi nas as alturas do rio Descoberto que outro destacamento, liderado por João Alberto, se confrontou com as tropas do Major Klinger.

Em agosto, os revoltosos marcharam rumo ao goiano, pelos cerrados do antigo quadrilátero Cruls, entrando em combate com a polícia goiana nas margens do Rio Arraial Velho, no município de Água Fria, à época parte de Planaltina.

O Pelotão, comandado por Miguel Costa, que se encontrava ferido, acampou no Retiro do Bambu, antigo Colégio Agrícola e atual Técnica Federal, mas não houve confronto, pois as forças legais ainda não haviam chegado à cidade.

Daí seguiram para o Vão do Paranã, ocupando o povoado de São João do Pinduca em agosto de 1925. A transposição da Serra Geral se deu por trilhas íngremes e precárias, onde atravessaram o rio nas alturas do município de São João d’Aliança.

No interior do país, a Coluna era perseguida por grupos denominados genericamente como forças legais, muito bem armados, compostos pelos soldados das Forças Públicas de São Paulo, pela polícia local e por Grupos de Jagunços, organizados pelas , exclusivamente para o embate contra os revolucionários.

Segundo Domingos Meireles, “a fina-flor da jagunçada baiana faz parte do Batalhão”. Um grupo de jagunços, chefiado pelo Coronel Horácio de Matos, perseguiu os revoltosos com cães de caça desde a cidade de Lençóis (BA) até Planaltina. Seu ponto forte era a tocaia, pois permaneciam dias postados num mesmo local à espera do inimigo.

O jornalista Franklin de Queirós, que acompanhava os jagunços, relatou que estavam concentrados em Planaltina aguardando a “chegada de automóveis e caminhões. Como o estado era bem servido de estradas, os rebeldes seriam perseguidos com ajuda de veículos motorizados”. Os revolucionários, por sua vez, utilizavam uma estratégia de se dividir em vários pelotões, plantando pistas falsas para confundir o inimigo. O ponto forte da jagunçada era a tocaia, pois permaneciam dias postados num mesmo local, à espera do inimigo.

Para derrotar os revoltosos, o presidente Artur Bernardes não hesitou em acionar a Aviação da Polícia de São Paulo a fim bombardear os rebeldes em Planaltina, sob o comando do coronel americano Orton Hoover, instrutor de aviação. Cinco aeronaves foram enviadas para fazer uma apresentação no Jóquei Clube de Uberaba (MG), e depois seguiram para executar o bombardeio, mas devido ao mau o primeiro avião retornou, e o segundo caiu carregado com 15 bombas em Urutaí (GO), provocando a morte de dois oficiais.

Desfalcado do apoio da Força Aérea, o Coronel Dias montou um cerco aos revoltosos, organizando um Quartel General das forças governistas em Formosa, distribuindo soldados por todo o Vale do Paranã, se estendendo até a Vila de Cavalcante. Outra linha de defesa foi montada de São José do Duro (Dianópolis) a Porto Nacional, passando por Almas e Natividade, compondo um cerco articulado pelo governo com um pelotão de 2.400 homens das Forças públicas de São Paulo.

Outro confronto, inusitado, ocorreu em Olhos d’Água, povoado de Alexânia (GO), provocando inúmeras baixas dos dois lados. O encontro foi engendrado por Prestes, que colocou um de seus homens infiltrado entre os Jagunços, para alimentar a desconfiança entre os chefes, que se comunicavam por meio de uma senha trocada dia a dia. Como todos eram maltrapilhos, anêmicos, usavam roupas do exército e ninguém sabia quem era quem, o erro da senha do dia provocou umas das maiores mortandades na região.

A Coluna Prestes, uma das maiores sagas da mundial, ainda não ganhou o espaço merecido na historiografia brasileira. Os revolucionários percorreram cerca de 25.000 quilômetros pelos sertões do país, passando por onze estados, e encerraram sua longa marcha no dia 4 de fevereiro de 1927, em terras bolivianas. Apesar de todas as adversidades que enfrentaram, não foram derrotados pelos Coronéis e prepararam o país para um novo período da história com a ascensão de Getúlio Vargas ao poder.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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