20 ANOS SEM APOENA
“Eu prefiro morrer lutando ao lado dos índios em defesa de suas terras e seus direitos do que viver para amanhã vê-los reduzidos a mendigos em suas terras”. Apoena
Por Hugo Meireles Heringer
Com esta frase emblemática de engajamento extremo pela causa indígena, dita e repetida pelo sertanista Apoena Meireles durante toda sua vida, marcamos os 20 anos de seu assassinato.
No dia 9 de outubro de 2004, Apoena Meireles foi alvejado a tiros de revólver, que provocaram sua morte, quando saía de um caixa eletrônico do Banco do Brasil, em Porto Velho, Rondônia. Pelas condições do crime, o caso foi tratado à época como latrocínio, ou seja, roubo seguido de morte.
Porém, pelos padrões de execuções adotados contra defensores de direitos humanos na Amazônia, o caso do assassinato de Apoena se equipara a outros muitos casos tomados aparentemente como crimes comuns, mas que por trás das evidências esconde uma larga rede de mandantes. Os crimes são investigados normalmente como latrocínio, e a história costuma acabar por aí.
Por este motivo geral e por dois motivos específicos, o assassinato de Apoena, embora considerado como latrocínio, é visto como possível crime de encomenda, em função de duas razões:
Primeira, a desconfiança se ancora em elementos da própria história de Rondônia, cujos registros evidenciam eventos de pistolagem traduzidos em eternos casos sem solução.
Segunda, em função de que Apoena era o coordenador da “Operação Roosevelt”, implantada em setembro de 2004 pelo governo Lula como medida decorrente do conflito envolvendo 29 garimpeiros em Espigão do Oeste, cujo objetivo era reduzir as tensões no território Cinta-Larga, assegurando a integridade dos indígenas a partir da proibição de acesso nesse espaço rico em minérios, com destaque para as jazidas de diamantes, uma vez que Apoena detinha a confiança dos povos indígenas de Rondônia, muitos deles desde o primeiro contato.
Nascido na Terra Indígena Pimentel Barbosa, do povo Xavante, em Mato Grosso, seu nome foi uma homenagem prestada pelo seus pais ao cacique Xavante que eles conheceram na década de 1940, durante o primeiro contato com os Xavante.
Seu pai era o sertanista Francisco Furtado Soares de Meirelles, mais conhecido como Chico Meirelles, sua mãe era Abigail Lopes. Assim desenvolveu aquela que seria a vocação que o consagraria como um dos maiores indigenistas do país: ele aprendeu a ter paciência, a escutar e aprender com os indígenas e a sugerir soluções sobre assuntos relacionados ao tema indígena.
Servidor de carreira da Funai, autarquia que presidiu entre 1985 e 1986, Apoena morreu lutando pelo que defendia e acreditava.
SEMPRE VIVO, APOENA!
Hugo Meireles Heringer – Indigenista e assessor parlamentar