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Vergine maria madre Concetto religioso di fede

EXISTE UMA MARIA MADALENA NO ÍNTIMO DE TODA MULHER

Existe uma Maria Madalena no íntimo de toda mulher

Não questionarei, aqui, se Maria Madalena era santa, louca, adúltera. Esse julgamento já foi feito e preconizado nas escrituras bíblicas – sagradas para o Cristianismo

Por Iêda Vilas Bôas

A mim não me interessa o “pecado” dessa mulher. Aliás, o pecado está atrelado à cultura de um povo e estamos falando de um patriarcado. Venho, em tentativa de trazer para o tempo atual, registrar uma figura importante de mulher, na gravação da memória e na perpetuação da história no tempo.

Maria Madalena – Maria de Magdala – mulher que desafiou conceitos, dogmas e papéis. Pobre, não era, pois se dava ao luxo de poder dedicar-se em tempo exclusivo ao Messias. Foi dele companheira constante. Lavou os pés do peregrino, misturou água e lágrimas… beijou seus pés, enxugou-os com seus cabelos… curou as feridas da caminhada, passou unguento.

Carinho e devoção absoluta e, depois, a estrada conjunta. Madalena, conforme está registrado, foi também discípula e companheira de projetos e sonhos. Esteve em vários eventos junto com o Nazareno.

Aí, nesse ponto, faço um destaque: Maria Madalena era mais uma apóstola. Se assim não foi designada devemos ao grande fator do machismo. Pelo que se lê e se sabe, Maria Madalena era amiga e dedicada à causa de Cristo. Essa mulher esteve com Jesus na Galileia, enquanto ele anunciava o reino de Deus aos seus discípulos.

Ela também o acompanhou quando ele e seus discípulos viajaram para Jerusalém e ingressaram na cidade santa; e até quando os romanos pregaram o corpo de Jesus na cruz.

Maria Madalena presenciou a crucificação, sofreu junto.  Também acompanhou o transporte do corpo para a tumba e foi ela quem avistou, no terceiro dia, que o túmulo estava vazio. De acordo com a tradição cristã, foi Maria Madalena quem testemunhou a ressurreição e recebeu a primeira aparição de Jesus.

Desde seu nome até em suas ações pontuadas e estigmatizadas, há muito de preconceito nessa história. Na escrita original dos evangelhos, ela não tem o nome composto de “Maria Madalena”. As escrituras a tratam por “Maria, chamada Madalena”, ou “Maria, a Madalena”.

Supõe-se que o segundo nome seja um diferencial para que não a confundam com a mãe de Jesus e o segundo nome fosse um adjetivo pátrio, uma marcação territorialista.  Magdala seria referência a sua aldeia de origem. Um local de comércio e negócios. Expedições e pesquisas arqueológicas provam que Magdala (Medjal) viveu um próspero período econômico na época do Galileu.

É nessa figura que queremos focar: na mulher corajosa, amorosa, dedicada, apaixonada pelos ideais de bondade, partilha e de luta comum, ainda que em minoria.

Maria Madalena foi uma mulher destemida e de visão. Diligente, amiga, responsável pelo provisionamento de comidas e distribuição das mesmas para o prosseguimento da jornada. Era uma líder nata e excelente administradora de conflitos diários. Assumiu a mais humilde das tarefas caseiras para que outra pessoa (seu líder) tivesse o mínimo de estrutura para pregar e fazer milagres.

Foi audaz ao viver de forma independente e romper com suas tradições e seus laços familiares por acreditar que o que fazia era necessário e correto. Desde aqueles tempos nunca foi fácil para uma mulher desafiar os papéis que lhe eram impostos.

As mulheres judias na Palestina eram colocadas sob provas bastante severas na época de Maria Madalena. Nesse tempo, o judaísmo se empenhava ferozmente para preservar sua identidade contra as influências da cultura helenística.

Assim, as mulheres judaicas da Judeia e da Galileia eram submetidas às interpretações cada vez mais rigorosas da Torá e a regras ainda mais elaboradas em que nenhum direito era favorecido para quem nascia sob a pecha de ser mulher. As mulheres eram, legalmente, propriedade dos homens: de seus pais enquanto não eram casadas, depois passavam a ser de seus maridos.

É esse o nosso ponto comum: Maria Madalena era mulher, independente, defendia suas causas e valores. Era muito diplomática e, dizem, investia financeiramente e socialmente nas viagens que o Cristo e os seus discípulos faziam. Ainda temos muito de Maria Madalena em nós.

Empenhamo-nos às nossas causas por amor, por sonhos e por crença. E assim vamos seguindo, sem esperar que o mundo reconheça nosso importante papel, mas com a certeza de que ele é extremamente necessário.

Pela grande mulher que foi, salve Maria Madalena!

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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