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E lá se vai o o que resta do Cerrado

E lá se vai o que resta do Cerrado

Cada vez mais devastado, Cerrado ficará sem dados de desmatamento a partir de abril

Por Murilo Pajolla/ Brasil de Fato

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, deixará de divulgar dados do desmatamento do Cerrado a partir de abril.
A justificativa é a falta de verbas para continuar o programa de monitoramento do bioma, uma das regiões de maior biodiversidade do planeta. 
O dinheiro era garantido desde 2016 por um programa do Banco Mundial, mas o financiamento acabou. Segundo o Inpe, o custo é de R$ 2,5 milhões por ano.
A quantia é a mesma gasta pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) em sete viagens nas quais realizou “motociatas” com apoiadores em 2021, segundo levantamento publicado pelo jornal O Globo.
A interrupção da coleta de dados foi confirmada uma semana após o Inpe divulgar alta de 7,9% na cobertura vegetal desmatada ao longo de 12 meses no Cerrado. 
Os números indicaram que a chegada de Bolsonaro ao poder interrompeu uma trajetória de queda drástica da devastação no bioma, iniciada em 2006.
Foram perdidos 8,5 mil quilômetros quadrados de vegetação nativa, área equivalente a quase seis vezes a cidade de São Paulo. A extensão desmatada é a mais alta desde 2016.

Abastecimento hídrico ameaçado 

“Encerrar esse monitoramento é um completo disparate. R$ 2,5 milhões para manter um monitoramento desses é uma barganha. Foi uma escolha, por mais que haja essa justificativa”, afirmou Yuri Salmona, diretor do Instituto Cerrados. 
Segundo ele, o Brasil fica sem um dos principais instrumentos de subsídio a fiscalizações e politicas publicas, no bioma onde nascem oito das 12 grandes bacias hidrográficas do pais .
“Perdemos capacidade de planejamento energético e colocamos o país mais próximo de ter crises recorrentes quanto à questão hídrica”, prevê o geógrafo e pesquisador. 
De acordo com estudo do Mapbiomas, a pecuária e a agricultura de exportação foram responsáveis por 99% do desmatamento do Cerrado, que já perdeu praticamente metade da cobertura vegetal original. 
Foto de Capa: Cachoeira do Miranda – Chapada dos Veadeiros – AQK. 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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