Patativa do Assaré
Por Elson Martins
Segundo filho de uma família pobre que vivia da agricultura de subsistência, cedo ficou cego de um olho por causa de uma doença. Com a morte de seu pai, quando tinha oito anos de idade, passa a ajudar sua família no cultivo das terras.
Aos doze anos, frequenta a escola local, em que é alfabetizado, por apenas alguns meses. À partir dessa época, começa a fazer repentes e a se apresentar em festas e ocasiões importantes. Por volta dos vinte anos recebe o pseudônimo de Patativa, por ser sua poesia comparável à beleza do canto dessa ave.
Patativa do Assaré obteve popularidade a nível nacional, possuindo diversas premiações, títulos e homenagens (tendo sido nomeado por cinco vezes Doutor Honoris Causa). No entanto, afirmava nunca ter buscado a fama, bem como nunca ter tido a intenção de fazer profissão de seus versos.
Ele nunca deixou de ser agricultor e de morar na mesma região onde se criou (Cariri) no interior do Ceará. Seu trabalho se distingue pela marcante característica da oralidade. Seus poemas eram feitos e guardados na memória, para depois serem recitados. Daí o impressionante poder de memória de Patativa, capaz de recitar qualquer um de seus poemas, mesmo após os noventa anos de idade. (Google)
Infância
No verdõ de minha idade
Mode acalentá meu choro
Minha vovó de bondade
Falava em grandes tesôro”.
Arte matuta
Eu aprendi com a natureza que é caprichosa. É como eu digo nos meus versinhos:
Eu nasci ouvindo os cantos
das aves de minha serra
e vendo os belos encantos
que a mata bonita encerra
foi ali que eu fui crescendo
fui vendo e fui aprendendo
no livro da natureza
onde Deus é mais visível
o coração mais sensível
e a vida tem mais pureza.
Sem poder fazer escolhas
de livro artificial
estudei nas lindas folhas
do meu livro natural
e, assim, longe da cidade
lendo nessa faculdade
que tem todos os sinais
com esses estudos meus
aprendi amar a Deus
na vida dos animais.
Quando canta o sabiá
Sem nunca ter tido estudo
eu vejo que Deus está
por dentro daquilo tudo
aquele pássaro amado
no seu gorgeio sagrado
nunca uma nota falhou
na sua canção amena
só canta o que Deus ordena
só diz o que Deus mandou.
Despedida
Conheço que estou no fim
e sei que a terra me come
mas fica vivo o meu nome
para os que gostam de mim
Patativa morreu em 8 de julho de 2002 na cidade de Assaré, onde nasceu.
(Poesias e foto reproduzidas do livro “Digo e não peço segredo” organizado e prefaciado por Tadeu Feitosa. Editora Escrituras, São Paulo 2001)
Foto de Capa: Diário do Nordeste.
Foto de Robson Melo