O Jaime anda por aí…
O Jaime anda por aí…
“Jaime foi ali, mas voltará sempre que houver luta por liberdade e igualdade”
Por Salomon Cytrynowicz (Samuca)
Preciso escrever um texto de 700 caracteres sobre o Jaime Sautchuk, que foi embora um dia desses. Mas quem disse que eu consigo emoldurar uma figura como o Jaime em 700 letras? Então, recorro a Eduardo Galeano e seu maravilhoso Palavras Andantes. Na página 60, Galeano conta:
Magda Lemonnier recorta palavras nos jornais, palavras de todos os tamanhos, e as guarda em caixas. Numa caixa vermelha guarda as palavras furiosas. Numa verde, as palavras amantes. Em caixa azul, as neutras. Numa caixa amarela, as tristes. E numa caixa transparente guarda as palavras que têm magia.
Às vezes, ela abre e vira as caixas sobre a mesa, para que as palavras se misturem do jeito que quiserem. Então, as palavras contam para Magda o que aconteceu e anunciam o que acontecerá.
Se eu tivesse as caixas da Magda e soltasse as palavras agora, as da caixa transparente diriam que o Alemão, ou Polaco, como o chamavam os mais íntimos, anda pra sempre por aí, nas matérias que escreveu, nos livros que publicou, onde há boa música caipira, gente preocupada com gente, ouvido limpo pra ouvir.
As palavras da caixa amarela não sairiam, Jaime não gosta de tristeza. Da caixa azul também não sairia nenhuma frase, que o Sautchuk tem lado. As palavras da caixa vermelha diriam o que aconteceu e o que acontecerá: Jaime foi ali, mas voltará sempre que houver luta por liberdade e igualdade.
Desenho de Capa: Luísa Soares
NOTA DA REDAÇÃO: Há exatamente um ano, no dia 14 de julho de 2021, nosso editor-chefe, Jaime Sautchuk, embarcou nas asas da quimera, para ser estrela em alguma constelação de esperança, em algum jardim distante, nos insondáveis mistérios do infinito. Neste primeiro aniversário da partida de Jaime do espaço físico deste mundo, além da saudade infinita, pra você, Jaime, a certeza de que estamos fazendo o possível para fazer valer seu legado: A Vida é Dez!