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Betinho presente na luta da gente! Viva Betinho!

Betinho presente na luta da gente! Viva Betinho!

No dia 09 de agosto celebramos o dia da páscoa do nosso companheiro Herberth José de Souza, o Betinho. O “… irmão do Henfil…que partiu…” cantava Elis Regina, no “Bêbado e o equilibrista” de João Bosco e Aldir Blanc, na Campanha da Anistia. Exilado e perseguido que fora pelas ditaduras militares, sucessivamente no Brasil e no Chile, aonde foi exilado nos anos 70.

Por José de Ribamar de Araújo e Silva

Líder dos movimentos eclesiais Juventude Estudantil e Universitária Católica (JEC e JUC), da Ação Popular (AP), desde os anos 50, sociólogo militante, sempre defendendo as reformas de base, sobretudo a Reforma Agrária. Retornou ao Brasil, no final dos anos 70, como uma das lideranças do movimento da Anistia aos presos e perseguidos ´políticos e pela redemocratização do Brasil nos anos 80. Tendo sido fundador do IBASE (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas). Entidade de tão relevantes serviços prestados.

Hemofílico e tendo contraído HIV, nos dolorosos processos de transfusão de sangue, assim como seus dois irmãos, Henfil e Chico Mário. Ele foi um dos pioneiros na luta pelo fortalecimento do SUS na busca do tratamento dessa epidemia na rede pública de saúde. E na criação da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (ABIA).

Um dos fundadores do Movimento pela Ética na Política teve papel decisivo na mobilização pelo “Impeachment” do Presidente Collor. Movimento a partir do qual se gerou a imensa mobilização social que deu origem a Ação da Cidadania Contra a Fome a Miséria e pela Vida, Ação da Cidadania que este ano celebramos 30 anos de fundação.

Assim que existem múltiplas formas de celebrar a memória de Betinho. Este militante ímpar de muitas lutas e uma só causa, a defesa dos Direitos Humanos nas suas diversas dimensões.

Esse ano eu proponho que celebremos a memória do Betinho revisando seus escritos, sobretudo um básico e sempre atual “Como se Faz Análise de Conjuntura”, Ed. Vozes. Ele nos oferece um método que parte de algumas categorias “acontecimentos, cenários, atores, relação de forças, articulação entre ‘estrutura’ e ‘conjuntura’”.  Usando esse método Ele sempre nos vacinou a enfrentar o emergencial de olho no estrutural, com a frase eternizada “Quem tem fome tem pressa”. Lema da Ação e das campanhas ao longo desses trinta anos. Porém numa análise mais profunda Ele propõe uma frase mais completa que nós do Comitê da Ação da Cidadania do Maranhão escolhemos desde início como nosso lema:

A luta contra a miséria tem dupla dimensão, a emergencial e a estrutural. A articulação entre estas duas dimensões é complexa e cheia de astúcia. Atuar no emergencial sem considerar o estrutural é contribuir para perpetuar a miséria. Propor o estrutural sem atuar no emergencial é praticar o cinismo de curto prazo em nome da filantropia de longo prazo”.  Herbert de Souza – Betinho

A atualidade desta concepção de combate a fome exige de seus militantes uma postura dialógica, plural, participativa pluriconfessional e pluripartidária. E nos exige uma postura ética na canalização de nossa força política. Daí a necessidade de retomar a Campanha do voto ético.

É inconcebível que um militante da Ação da Cidadania não seja militante das reformas de base, da Reforma Agrária do fortalecimento do SUS, e que, portanto, não promova só a Ação de distribuição de alimentos, ou do vale gás, mas que sintonizados com a proposta política pedagógica de Betinho promova a emancipação para Cidadania. Resgatando as pessoas da situação de beneficiário das cestas de alimento, ou do cartão do Bolsa Família a titularidade e exigibilidade do Direito Humano a Alimentação e Nutrição Adequada.

Não é admissível que numa sociedade polarizada por uma política neonazista, separatista, as nossas ações não sejam canalizadas para a superação das raízes estruturais da fome já diagnosticadas desde a I conferência Nacional de segurança alimentar e nutricional, 1994, a qual tivemos a honra e o desafio de ajudar a coordenar ombreados com Betinho, com base no que denunciou o mapa da fome do IPEA/1992, a raiz da fome é o modelo concentrador de ‘terra, rendas e oportunidades’.

Daí a sábia conclusão de nosso Mestre e sociólogo Betinho a raiz da fome é política “O Brasil tem fome de ética e passa fome em consequência da falta de ética na política”. Portanto, ser militante do combate a fome, sobretudo na Ação da Cidadania é um ato politíco, longe do discurso apartidário nos convida ao ciclo virtuoso da boa política da formulação ao controle social, sem se intimidar de assumir tanto quanto possível e desejável a gestão das políticas públicas, afinal, “A fome e a miséria terão que estar em todos os debates, palanques e
comícios” Herbert de Souza – Betinho

Em dias de negação das vacinas queremos reafirmar a necessidade de uma vacina ambivalente do Emergencial ao Estrutural. Não basta distribuir cestas emergenciais de alimentos e não vigiar sobre a qualidade nutricional do que se distribui. E lutar pela geração de emprego e renda. Pois não basta lutar, como lutamos para derrubada do veto presidencial ao reajuste da Alimentação escolar ou da implantação de restaurantes populares e não exercer o controle social sobre a compra de pelo menos 30% da agricultura familiar. Como dizia o ditado popular “não basta dar o peixe e nem só ensinar a pescar”, em dias de devastação acrescentamos “é preciso vigiar para que não se polua ou privatize os rios nos quais precisamos pescar”.

Caso contrário seremos qualquer ação, mas não a Ação que gera Cidadania, como sonhou Betinho. Senão cairemos na contradição daqueles que choram ao assistir o filme do holocausto mas nas eleições elegem neonazistas. Ou daqueles cristãos que choram a Paixão de Jesus Cristo e votam em quem defende a tortura. Ou como aquele ator ou cantor que se soma a política genocida que mata crianças yanomamis e depois nos convida a doar para o “Criança Esperança”.

Lembrar a figura do Betinho é fácil difícil é honrar a memória do Betinho!

Por isso nunca foi tão atual a proposta política pedagógica, expressa numa de suas últimas ações de massa que foi a Carta da Terra, que expressa o sonho e a luta do homem, militante dos direitos humanos e fundador da Ação da Cidadania Herberth José de Souza.

Com esse espírito fortalecemos o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, rumo a VI Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional com a proposta de “Erradicar a Fome e garantir direitos com comida de verdade, Democracia e Equidade”.

Betinho Vive! Viva Betinho!

jose ribamarJosé de Ribamar de Araújo e Silva – Mestre em Direitos Humanos e Cidadania pela UNB e Membro fundador da Ação da Cidadania Comitê Maranhão. Foto de capa: divulgação.

 

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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