Fogo recorde no Canadá não para e país recebe ajuda do Brasil

Fogo recorde no Canadá não para e país recebe ajuda do

Piores incêndios florestais da canadense já devastaram mais de 13 milhões de hectares e emitiram 290 milhões de toneladas de gás carbônico.

Por Priscila Pacheco/ O Eco

O Canadá segue enfrentando a pior temporada de incêndios florestais da sua história por área queimada. Segundo o Centro Interagências de Incêndios Florestais Canadenses, ao menos 13,4 milhões de hectares foram devastados pelo fogo até o momento. O recorde anterior era de 1995, quando 7,1 milhões de hectares foram queimados no ano inteiro, indica a série histórica iniciada em 1983.

A quantidade e a intensidade de incêndios fizeram com que o país solicitasse apoio internacional para o combate. O Brasil é um dos países que enviaram ajuda. No dia 21 de julho, um time composto por 104 pessoas do Prevfogo, do Ibama, viajou e atuará até 22 de agosto na Colúmbia Britânica. Durante os primeiros 15 dias o grupo trabalhou em uma região central da província, entre as de Prince George e Quesnel. Até o fim da missão, o auxílio é em Okanagan Falls, na fronteira com os Estados Unidos.

O país também bate recorde negativo na emissão de gases efeito estufa proveniente das queimadas. Dados divulgados pelo Serviço de Monitoramento Atmosférico do Copernicus, organização europeia, mostram que, de 1 de janeiro a 31 de julho, as emissões de acumuladas por causa dos incêndios florestais totalizaram 290 milhões de toneladas, valor que ultrapassa em quase quatro vezes a média de 2003 a 2022, e representa mais de 25% do total global de emissões de incêndios para 2023 até o fim do mês passado.

Segundo a instituição, as emissões globais oriundas de incêndios florestais estavam apresentando uma tendência de queda devido ao declínio dos incêndios de savana nos trópicos, que são altamente sazonais – ou seja, seis meses no norte da África Tropical e seis meses no sul da África tropical. No entanto, 2023 está apresentando um leve aumento em relação aos últimos anos por causa dos incêndios persistentes em larga escala no território canadense. Até o início de agosto, 1,14 bilhão de toneladas de CO2 foram emitidas no mundo devido a incêndios florestais. O ano completo de 2022 totalizou 1,5 bilhão de toneladas.

Há 1.100 incêndios ativos no Canadá, sendo que mais de 700 estão fora de controle. O fogo está espalhado pelo país, sendo que a situação é crítica na Colúmbia Britânica (397 incêndios ativos), no oeste do país, nos Territórios do Noroeste (226) e Yukon (138), região que faz fronteira com o Alasca, nos EUA. Alberta, que liderava no número de incêndios em maio, quando o problema começou a se intensificar, agora ocupa a quarta posição, com 95 incêndios ativos.

Yan Boulanger, pesquisador integrante do Serviço Florestal Canadense, chama a atenção para condições climáticas que contribuem para a proliferação dos incêndios. Entre maio e julho, houve recordes de temperaturas altas. Em Kelowna, cidade localizada na província da Colúmbia Britânica, por exemplo, os termômetros ficaram acima de 30°C por 36 dias no período, sendo que o normal costuma ser 16 dias. Os ventos quentes e secos também tiveram influência. “Um raio em 1º de junho provocou mais de 120 incêndios [na província de] Québec, que se espalharam muito rapidamente devido a períodos de contínuos e subsequentes”, comenta.

Boulanger está participando de uma pesquisa com a World Weather Attribution Initiative, grupo de pesquisadores que estuda eventos extremos, para avaliar a contribuição das mudanças climáticas para a atual temporada de fogo no Canadá. O pesquisador adianta que a tem impacto no desastre. “A mudança climática é um fator significativo, tornando a vegetação mais seca e inflamável, especialmente no oeste do Canadá”, explica.

Além das condições climáticas e a quantidade de material para combustão, como vegetação seca, o perfil homogêneo da boreal permite que o fogo se espalhe com mais velocidade.”Se a gente comparar com a , principalmente a parte intacta, aqui [no Canadá] o fogo tem muito mais velocidade do que na floresta amazônica que é muito mais úmida, densa e heterogênea”, Gabriel Zacharias, analista ambiental do Prevfogo e chefe da missão brasileira no Canadá.

Outros países do hemisfério Norte também sofrem com incêndios neste verão boreal, que vem batendo todos os recordes de calor. Estados Unidos, Grécia, Portugal, EspanhaItália e Rússia são alguns exemplos. A Grécia, por exemplo, enfrentou a pior temporada de incêndios florestais para o mês de julho desde ao menos 2003, segundo o Copernicus. O país europeu emitiu mais de 1 megatonelada de carbono oriundo de incêndios florestais neste ano até 25 de julho. Nos EUA, mais de 50 pessoas morreram no Havaí em decorrência do fogo. O Brasil tem a pior época para queimadas em agosto e setembro. E, apesar de muitos incêndios serem criminosos no país, o mais seco e quente estimulado pelas mudanças climáticas e pela atuação do El Niño aumentam a proliferação do fogo.

Publicado originalmente por 

Priscila Pacheco – Jornalista. Fonte: O Eco. Foto: Quentin Tyberghien/AFP.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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