É responsabilidade de toda a sociedade debater o sistema prisional

É responsabilidade de toda a debater o sistema prisional

A questão prisional é um tema que não pode sair do nosso radar. Atualmente há 832.295 mil pessoas privadas de , o que significa aumento de 257% nos últimos anos.

Por Mônica Francisco/Mídia Ninja

Dessas, 68,2% são pessoas negras e 43,1% são jovens de até 29 anos, segundo dados do 17º Anuário Brasileiro de . Um reflexo direto da escolha das autoridades que veem na privação de liberdade a única forma de lidar com conflitos, das desigualdades, e do estrutural, que empurra grande parte da população para as margens.

Outro componente que não permite o distanciamento do tema é o uma visão interseccional muito acentuada. As questões que o envolvem exigem a implementação de medidas que garantam a dignidade e a possibilidade real de reinserção, reintegração e perspectiva de aos/às que saem do âmbito da reclusão por cometimento de delito. A maioria das pessoas nessa situação são homens negros, com baixa escolaridade, sem paternidade reconhecida ou negada, com fragilidades no acesso às políticas de cunho socioassistenciais e, por consequência, vítimas de uma lógica perversa, que atravessa não só as suas próprias vidas, mas acaba trazendo para toda a sociedade, direta ou indiretamente, situações muito desastrosas.

É preciso ressaltar que toda a sociedade deveria se debruçar em busca de saídas para essa que se aprofunda e agrava com a conjuntura pós-pandemia, mas que já vinha se intensificando com o acirramento do pós- e do pós-colonialismo predatório e voraz.

Há ampla discussão em curso sobre o tema, principalmente no que se refere ao processo de privatização do sistema prisional e da construção de presídios privados. Alegam que o objetivo é melhorar a gestão do sistema, mas será que a construção de prisões em larga escala garantirá melhorias? Não acredito que entregar o sistema de gestão à iniciativa privada mudará o cenário. Pelo contrário, poderemos assistir, com a escalada sem precedentes de produção de unidades prisionais, mais injustiças, e uma sociedade indo na contramão quando se trata de estabelecer critérios justos, já constitucionalmente previstos e em diálogo com os mais sofisticados protocolos.

A situação evidencia o quanto o racismo estrutural serve bem ao predatório, pesando ainda mais sua mão sobre aqueles que estão condenados a viver com a naturalização dos seus sofrimentos. Somos uma sociedade extremamente punitivista, mas nunca resolvemos nem a questão da de Pública nem a delicadíssima temática prisional. Há uma explosão demográfica nos presídios majoritariamente monocromáticos (nem preciso explicar isso), que aponta o aumento de mais de 600% da população carcerária da década de 1990 para cá. É escandaloso!

Fonte: Mídia Ninja Capa: Agência Brasil


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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