Análise: como termina 2023 na opinião pública?
Próximo do fim, o ano de 2023 foi de relativa estabilidade da polarização, mostraram pesquisas – um desafio na busca pela ampliação da popularidade do governo
Por Matheus Tancredo Toledo/Revista Focus Brasil
Ao longo de todo o ano de 2023, o primeiro do terceiro mandato do presidente Lula, o Núcleo de Opinião Pública, Pesquisas e Estudos da Fundação Perseu Abramo (NOPPE-FPA) realizou acompanhamento sistemático das principais pesquisas de opinião divulgadas por institutos brasileiros. Com os dados em retrospecto, é possível avaliar o que essas pesquisas mostraram ao longo de 2023 – uma sinalização de desafio na solidificação da popularidade do governo Lula 3 diante da polarização política estabilizada.
As duas pesquisas mais recentes, realizadas pelos institutos IPEC (ex-Ibope) e DataFolha, convergem nos índices de popularidade do governo: em ambas, 38% da população considera o governo ótimo/bom (cuja soma configura avaliação positiva de governo), 30% o considera regular e 30% ruim/péssimo (soma que configura a avaliação negativa do governo). Olhando em retrospectiva, o quadro é de manutenção dos patamares mensurados pelos institutos no primeiro semestre (no caso da IPEC, os números de avaliação negativa são maiores agora do que em meados de março, alcançando o mesmo patamar que o Datafolha já havia mensurado), e confirmam que a possível tendência de melhora vista no início da segunda metade do ano não se concretizou. O saldo, no entanto, ainda é positivo
Ao longo deste ano, os institutos de pesquisa, especialmente a Quaest, apontaram uma tendência de aumento da aprovação, no período já mencionado anteriormente. Naquele momento, olhando para os dados, era possível sugerir uma hipótese de distensionamento da polarização, com parte dos segmentos que estavam mais próximos do bolsonarismo na eleição do ano passado (os que declararam que votaram no então candidato no segundo turno, a parcela evangélica da população) podendo caminhar rumo a uma avaliação menos negativa do governo Lula. Neste momento, no entanto, a não concretização daquela tendência e os dados segmentados por declaração de voto em 2022 sugerem que ainda há um desafio para o próximo período: ainda há reflexos da polarização do pleito anterior, que provoca percepções da realidade distintas para parcelas opostas do eleitorado. No gráfico abaixo, por exemplo, é possível verificar que para quem declara que votou em Lula no segundo turno de 2022, a sensação de piora na economia é pequena. Entre quem declara ter votado em Bolsonaro, a sensação de piora tem aumentado constantemente desde o começo do ano, segundo Quaest e IPEC – com destaque para a retomada da piora, segundo o primeiro instituto, entre agosto e outubro. O inverso também ocorre: 69% dos eleitores de Lula percebem melhora na economia, número que é de somente 9% entre eleitores de Bolsonaro.
Esse padrão de comportamento e de formação das opiniões dificulta a formação de ampla popularidade governamental, especialmente considerando a margem estreita do pleito de 2022. No momento, o quadro de reconstrução de políticas públicas, de crescimento econômico, de aumento da geração de empregos e de inflação controlada não foram capazes de desmobilizar a parcela dos brasileiros e brasileiras que se mantém próxima das narrativas e discursos da extrema-direita derrotada nas urnas em 2022. Torna-se necessário investigar e averiguar por onde é possível vencer brechas e resistências, desativando a indisposição que esta parcela do país possui com este governo e com o campo democrático popular.
Fonte: Fundação Perseu Abramo Capa: Reprodução