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Motiba, a deusa, e as lágrimas azuis

Motiba, a deusa, e as lágrimas azuis: Uma homenagem ao menor rio do Brasil

Por Marconi Burum

Diante da beleza dos Azuis
Da água do rio,
E dos azuis do céu,
O paradoxo.
Ora, a menor bacia d’água que há
Projeta a imensidão do alto
E a existência do mar,
Temos certo.

Uma deusa discreta,
Conta a lenda,
Foi aprisionada por seu amado
Nas rochas de Pangeia.
Era o ciumes de uma perfeição desafiada.

Seu nome era Motiba.
A sua beleza tal,
[ fazia reluzir
A morte terna de quem se fizesse admirar.
Não era possível conter-se.
Ainda assim seu esposo não suportava ver
[ tantos a humilhá-lo àquela devoção.
Era um deleite ao prazer platônico.
O êxtase sensacional.
A nirvana do simples olhar.
Sem toque, sem se embebecer,
[ a embriaguez delirante.
Jogava-se por entre montanhas
[ todo homem
[ pensando agora poder voar.

Insuportável disputa,
Eis que seu preferido a esconde singela
[ dentre as pedras que emergem
Na Aurora de um canto sublime qualquer.

Mobiba
Jamais se faria sua parte gente,
Novamente.
Tornada em prantos e aflição,
Dor e solidão,
A deusa
Fez brotar por entre as rochas,
Num fundo invisível,
A mais bela nascente de águas límpidas.
Eram suas lágrimas a escorrer
Do centro da montanha.
Não havendo assanha,
Fizera Motiba novamente
[ o deleite do homem,
Mas fizera o seu próprio.
Eis que a graça das lágrimas azuis,
Ao sentir-se pele e corpo,
O mergulho estonteante
Faz carícia na face da deusa no cárcere.
Cativa,
A diva a se libertar,
Escorrendo sorrisos
Ao encontro do mar.

Na alegria das crianças a brincar
[ de buscar no fundo as pedrinhas claras;
No êxtase da ninfa que sente
[ suas entranhas a vibrar
No beber dos pássaros após o cantar,
No prazer dos enamorados
[ se entregando no ato
De apaixonar-se.

Era assim a forma que
Motiba,
A deusa
Se faria projetar vida;
Encontrar-se-ia em nova realeza.
Na pureza daquele chorar;
Na transparência de seu sabor
[ quase vegano;
No toque delicado de suas águas,
A simplicidade e a singeleza
[ que justifica o nascer humano.

A deusa da verdade,
Na verdade,
É transcendência.

E de suas tímidas águas
Transparentes,
O espelho a presentear de luz
O mar,
O céu
E o homem a amar…

            … Novamente!

Azuis parte de baixo Filipi Andrade

Marconi Moura de Lima Burum é professor e escritor. Formado em Letras pela UnB, pós-graduado em Direito Público pela Faculdade Damásio de Jesus, foi também Secretário de Educação em Cidade Ocidental (Entorno de Brasília). Este Poema é uma homenagem ao menor rio do Brasil, o Rio Azuis, localizado em Aurora, Tocantins, a 491 km de Brasília-DF.

Azuis Mural do Agenda 21 no Rio Azuis desenhado pelo artista Francisco MontenegroAgenda 21 no Rio Azuis: Mural desenhado pelo artista Francisco Montenegro

Todas as fotos utilizadas na ilustração desta matéria são de Filipi Andrade Rio Azuis

Azuis Rio Filipi Andrade

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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