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POVOS GUARANI KAIOWÁ, KURUPA YT E PIKYXYIN SOB ATAQUE

POVOS GUARANI KAIOWÁ, KURUPA YT E PIKYXYIN SOB ATAQUE

Sob ataque, povos Guarani Kaiowá, Kurupa YT e Pixyxyin pedem socorro 

O apelo nas é dramático: Junto a fotos e vídeos de pessoas da Lagoa Panambi,  em Douradina, no Mato Grosso do Sul, sendo violentamente atacadas por  homens armados, neste sábado, 03 de agosto, vem a mensagem:

A retomadas Guarani Kaiowa, Kurupa YT e Pixyxyin estão sendo violentamente atacadas por ruralistas e capangas neste momento. Há várias pessoas feridas à bala de borracha e armas letais no local. Há vários feridos a bala de borracha e armas letais no local, também há grande concentração de camionetes em torno da comunidade Yvy Ajere. A Força Nacional simplesmente se retirou do local e deixou as comunidades totalmente desprotegidas ao ataque dos capangas e ruralistas. Estão atirando no pescoço das pessoas. Tem muitas crianças e idosos no local e até o momento recebemos informações de que há pelo menos dez feridos. A comunidade pede socorro, eles estão totalmente abandonados.

POVOS GUARANI KAIOWÁ, KURUPA YT E PIKYXYIN SOB ATAQUE
Ataque deixa 10 indígenas gravemente feridos em Douradina, Mato Grosso do Sul. — Fotomontagem: Apib

Notícias desta manhã de domingo, 04 de agosto: Ao menos 10 pessoas ficaram gravemente feridas; duas foram atingidas no pescoço e na cabeça. Duas estão em estado mais crítico por terem sido atingidos no pescoço e na cabeça.

O ataque ocorreu em uma das sete retomadas de terras por indígenas na Lagoa Panambi. A TI, de 12,1 mil hectares, foi identificada e delimitada pela Funai ainda em 2011, mas sua está paralisada devido às discussões sobre a tese do no Congresso.

Na sexta-feira, um ataque já havia ocorrido na retomada, a Pikyxyin, onde um casal de jagunços armados também foi preso pela Força Nacional no dia anterior. Ao denunciar a agressão deste sábado, a Apib destacou que há “muitas crianças e idosos no local”.

Em vídeos gravados à distância por indígenas e divulgados pelo CIMI (Conselho Missionário), além de uma intensa fumaça causada pelo ateado pelos criminosos em um trecho da Terra , é possível ouvir os disparos dos tiros que marcaram com balas os corpos das pessoas.

As agressões às comunidades indígenas, cujo território está em processo de regularização fundiária,  começaram logo após a saída de agentes da Força Nacional do território que, em vez de proteger os indígenas, chegou, segundo o CIMI, a dizer para uma liderança:  “Pega teu e sai daqui ou vocês vão morrer”.

“Queremos saber a razão da Força Nacional ter saído daqui. Os agentes saíram e o ataque aconteceu. Parece que foi combinado. Queremos entender” — disse um indígena Guarani Kaiowá.  Até o momento, o Ministério da Justiça não se posicionou sobre a retirada da polícia de um território obviamente conflagrado.

Em nota, o Ministério dos Povos Indígenas (MPI) informou que uma equipe do MPI, da Funai e do Ministério Público Federal está no território para prestar suporte de e para garantir a dos indígenas. A equipe em campo está apurando o número de pessoas atingidas e outras informações.

“O MPI repudia a violência contra os indígenas Guarani Kaiowá. Vale ressaltar que as retomadas estão sendo realizadas em território já delimitado pela Funai em 2011. O documento segue válido, porém, o andamento do procedimento demarcatório se encontra suspenso por ordem judicial”, concluiu a nota.

O MPI também informa que em uma ação conjunta do governo federal, deliberada na sala de situação criada para o acompanhamento de conflitos fundiários, foi decidido que uma equipe ficará permanentemente próxima às áreas de conflitos para deslocamento imediato em casos como esses.

“As retomadas Guarani e Kaiowa, Kurupa Yty e Pikyxyin estão sendo violentamente atacadas por ruralistas e capangas neste momento. Há vários feridos a bala de borracha e armas letais no local, também há grande concentração de camionetes em torno da comunidade Yvy Ajere”, disse em nota nas redes sociais.

Segundo o Cimi, após a pressão, a Força Nacional voltou a montar guarda nas retomadas. E  a Defensoria Pública da União (DPU) se comprometeu a entrar com representação pedindo a destituição do comando da Força Nacional no Mato Grosso do Sul.

Segundo informações do CIMI,  o Ministério da Justiça e Segurança Pública, o Ministério dos Povos Indígenas, Ministério dos Direitos Humanos, Ministério Público Federal (MPF) e a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), que atendeu as vítimas dos ataques com duas ambulâncias, também foram acionados. 

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Guarani e Kaiowá manifestam-se durante visita de comitiva da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) à TI Guyraroka. Foto: CIDH/divulgação

A RETOMADA 

A retomada Guaaroka inaugurou este último período de retorno dos Guarani e Kaiowá para territórios, ainda em posse de terceiros, da Terra Indígena Lagoa Panambi, cujo Relatório Circunstanciado de Identificação de Delimitação (RCDI) foi publicado em 2011 garantindo 12 mil hectares para a demarcação.

No dia 13 de julho, os indígenas retomaram Guaaroka e sofreram um primeiro ataque. Um indígena foi baleado e outros feridos por tiros de bala de borracha disparados por policiais militares. Em resposta à violência sofrida, os Guarani e Kaiowá decidiram retomar Yvy Ajere.

A postura desagradou a Federação da Agricultura e Pecuária do Mato Grosso do Sul (Famasul). Entendendo como uma desistência por parte da proprietária, o grupo ruralista então propôs que os Guarani e Kaiowá se retirassem das outras retomadas de terras em troca destes 150 hectares.

Além dos indígenas não terem aceitado a ideia, lembraram da reintegração de posse, ação judicial que os advogados da proprietária afirmaram que não iriam abrir mão.

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Foto: Reprodução/Internet

 

 

 

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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