CARTA DAS INFÂNCIAS NA CÚPULA DOS POVOS 2025

CARTA DAS INFÂNCIAS NA CÚPULA DOS POVOS 2025

Carta das Infâncias na Cúpula dos Povos 2025

Bem Viver e Justiça Climática:  só com a Participação de Crianças e Adolescentes! Belém – Pará – Brasil

Somos crianças e adolescentes de muitos lugares do Pará, da Amazônia e de outras partes do Brasil e do mundo. Viemos de lugares quentes, bairros apertados, ilhas, comunidades ribeirinhas, territórios indígenas e quilombolas, cidades grandes, casas simples e escolas que nem sempre têm sombra e ventilação.

Nos juntamos na Cúpula das Infâncias para conversar sobre uma questão que impacta nossas vidas todos os dias: O CLIMA.

Decidimos escrever esta CARTA porque queremos que o mundo escute a nossa voz; e o que sentimos no nosso corpo e no nosso dia a dia!

O calor está muito forte. De verdade. Tem dia que a gente sente dor de cabeça, tontura, vontade de desmaiar.

Tem criança que não consegue brincar no sol, estudar na sala quente, caminhar na rua cheia de poeira. Tem escola que não tem árvores para fazer sombra. Tem bairro onde o vento quase não passa.

SENTIMOS TRISTEZA QUANDO VEMOS:

Árvores caindo

Fumaça das queimadas

Rios com lixo

Animais sofrendo

A floresta diminuindo

Pessoas ficando doentes por causa do calor e da poluição.

TUDO ISSO MEXE COM A GENTE!

Mexe tanto que alguns de nós desenhamos o que sentimos:  

árvores grandes coloridas, crianças brincando sob o sol, rios azuis, passarinhos voando, casas cercadas de plantas, florestas pegando fogo, placas dizendo “CUIDE DA NATUREZA”.

Esses desenhos são um jeito de falar aquilo que a nossa boca não consegue.

POR QUE NOS IMPORTAMOS COM O CLIMA? 

Nos importamos porque a NATUREZA é a nossa casa e muito mais… Nós somos natureza, o planeta é natureza. A natureza é tudo!

Somos muito jovens e queremos ter um FUTURO BONITO para viver, mas também queremos AGORA!

Queremos continuar estudando, jogando bola, brincando, plantando, nadando, indo aos lugares que gostamos. Queremos que os animais e as florestas continuem existindo!

E DIZEMOS:

A morte da FLORESTA é o fim da nossa vida

Não pode ATIRAR E MATAR OS ANIMAIS

O calor afeta a SAÚDE das pessoas

Sem a natureza não existe HUMANIDADE

A gente respira o AR das matas e dos rios

As mudanças climáticas deixam CRIANÇAS DOENTES

Temos que cuidar e proteger a AMAZÔNIA

Nós queremos PLANTAR mais árvores

Nos IMPORTAMOS porque moramos aqui

TODOS NÓS CONCORDAMOS COM UMA COISA:  

Não queremos crescer num mundo destruído!

Não estamos pedindo, mas reivindicando nossos direitos.

Queremos que cuidem do planeta como se fosse uma criança: viva, precisando de atenção!

AQUI ESTÃO NOSSAS PROPOSTAS:

Temos que plantar mais árvores, muitas árvores, em toda parte

Parar o desmatamento e as queimadas

Ter lugares para jogar o lixo certo

Limpar os rios e os mares e proteger os peixes

Cuidar dos animais que estão perdendo suas casas

Ensinar nas escolas sobre o meio ambiente, com práticas e professores preparados.

Meio ambiente como parte da política de saúde

Ouvir as comunidades que estão na floresta

Participação real das crianças e adolescentes nas decisões políticas Os adultos devem fazer sua parte, porque estamos fazendo a nossa.

Os adultos devem ouvir as crianças — PORQUE MANDAM A GENTE CALAR A BOCA QUANDO TENTAMOS FALAR.

POR QUE CONSTRUÍMOS ESTA CARTA?

Porque acreditamos que nossa voz precisa chegar ao mundo todo. A COP30 é grande, e a nossa esperança também! Não temos poder, dinheiro ou cargos importantes, Mas temos o FUTURO E O PRESENTE!

EXIGIMOS

Ajuda para proteger a Amazônia

Para cuidar da Terra

Para que as próximas CRIANÇAS E ADOLESCENTES não tenham medo do calor, da fumaça, da falta d’água, da extinção dos animais

Para que elas possam desenhar florestas vivas — não florestas morrendo.

Somos muitos e muitas: crianças e adolescentes de zero a 17 anos.

Cada uma com um jeito, um desenho, uma fala, um sonho.

Mas todas com o mesmo IDEAL!

Cuidem do nosso planeta agora. Queremos continuar vivos e vivas! Crescer num mundo bonito, num mundo que ainda respire. Com esperança e sem medo!

Crianças e Adolescentes da Cúpula das Infâncias

Belém, 15 de novembro de 2025

Capa: MPA

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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