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Além do Amém: A opção humana da livre escolha

Além do Amém: A opção humana da livre escolha

Por Joacir D´Abadia

Com toda beleza que existe para ser desvelada ao ser humano em sua vida cotidiana, ainda cabe a ele responder por suas infinitas escolhas. Porque o ser humano não pode viver como se fosse um animal irracional, o qual é dominado pelos animais racionais.

Caso assim fosse, o agir humano estaria pautado sobre fórmulas prontas de agir e, então, não agiria por sua livre escolha senão que seria imposto ao seu modo de atuar um limite pelo qual não restava escolhas ou mesmo busca de um agir cada vez mais perfeito e o que restaria seria aceitar, sem liberdade de indagar o porquê de sua realização, a proposta de escolha: não a sua escolha, mas a escolha de um outro que lhe vem imposta como sendo sua escolha. Isso é dizer “amém” à toda e qualquer proposta que chega ao ser humano, sem antes refletir.

Cabe, pois, a cada ser humano escolher a forma de estar agindo em seu tempo remoto. Sem, contudo, estar sendo levado, conduzido pelas escolhas de outrem.  A escolha que cada ser humano faz é continuamente uma escolha que deve sobressair sobre as escolhas que outros fazem para ele.

Frente a este modo de agir embaso pela escolha livre não cabe ao ser humano deixar que pessoas possam tutelar sua maneira de exercer sua eleição. Deste modo, o ser humano deve ser servir de múltiplas escolhas até escolher a única realidade pela qual lhe chega através do Outro,  mas que essa escolha não lhe imputa a sua liberdade, pelo contrário, é justamente por causa dessa deliberação que que se faz é que se dá a ele a possibilidade de ser livre. Essa escolha é, portanto, a vida. Visto que é uma escolha que o Outro faz para o ser humano poder fazer sua escolha.

A vida, ou seja, vir à vida não é escolha de nenhum ser humano. É a escolha do Oculto.  Só ele pode dar ao ser humano uma abertura pra poder escolher. Essa abertura é nada mais que a criação. Ao ser criado, o ser humano é dotado de uma racionalidade que lhe faculta escolher. A possibilidade de escolha do ser humano faz com que ele vá além de um “amém”, ou seja, de um “assim seja”. Porque certo que pode usar seu agir para atuar livremente, não pode se prender ao úniico desejo do outro: que aceite a sua proposta de escolha.

Além do “amém” deve existir uma reflexão para ver se é lícito dizer afirmativamente ou se a proposta do outro deve ser rechaçada, tendo em vista que não só o fato de dizer “amém”, mas também a escolha que faz de tudo quanto lhe chega. O ser humano escolhe sempre. Continuamente está escolhendo não para simplesmente confrontar com o “assim seja”, mas, sobretudo, para poder viver no cotidiano em relação com os outros homens e com tudo o que existe.

Ao dizer “amém” sem uma prévia reflexão sobre o que está aceitando,  o homem faz deixando transparecer um certo acolhimento de uma dominação. Dizer “amém” é aceitar tudo o que é imposto. No entanto, aqui não vem ao mérito dizer que este “amém” é somente um “amém” da religião como uma dominadora da consciência do ser humano, mas não escapa nenhuma forma de esfera social, vista que em toda esfera humana existe um líder e também comporta seus súditos. Onde há líder presupõe-se a prevalência da dominação do líder sobre seus súditos. Até mesmo na família, pelo “amém”  torna a prole submissa ao dominador.

Em síntese, cabe, sim, ao ser humano escolher a forma pela qual vai estar agindo em seu tempo remoto, o modo que fez a escolha, e, a partir de seu “amém”. Nesse sentido, ele não estaria afirmando o seu “amém”, visto que não teve como usar sua liberdade para o fazer.  O dizer “amém” é sempre um dizer que deve brotar da liberdade. Mas nem sempre é assim. Uma pena!

Além do “amém” existe a abertura do ser humano como ser racional que o possibilita fazer reflexões sobre tudo o que chega até ele como proposta de escolha.

 

Joacir

 

[divider]ANOTE AÍ:[/divider]

Padre Joacir S. D´Abadia – Pároco de Alto Paraíso – Goiás.  Filósofo. Especialista em Docência do Ensino Superior. Colunista filosófico das revistas “Xapuri”  e “Bem Viver”, e do jornal “Alô,Vicentinos”.

 

 

 

 

Obs.: publicado originalmente em 3 de dez de 2017.

NOTA DA REDAÇÃO: NÃO COMPACTUAMOS, NECESSARIAMENTE, COM AS OPINIÕES DO PADRE. 


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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

P.S. Você que nos lê pode fortalecer nossa Revista fazendo uma assinatura: www.xapuri.info/assine ou doando qualquer valor pelo PIX: contato@xapuri.info. Gratidão!

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