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Alanta Wenjausu: a origem do Dia

Alanta Wenjausu: a origem do Dia

Depois que Sanerakisu escureceu o mundo, o pajé Waninjalosu fez nasceu do alakisu, a semente do pequi, duas crianças: um menino e uma menina. Então, ele mesmo se transformou no pé de pequi. E assim foi espalhando a semente do pequi por toda parte…

Por Renê Kithâulu

Depois que Sanerakisu escureceu o mundo, o pajé Waninjalosu fez nasceu do alakisu, a semente do pequi, duas crianças: um menino e uma menina. Então, ele mesmo se transformou no pé de pequi. E assim foi espalhando a semente do pequi por toda parte.

O menino chamava-se Waikutesu, e sua irmã, Waikutalusu. Eles cresceram juntos, mas não podiam se casar, porque eram irmãos.

Um dia, o menino pensou, pensou, e disse para a irmã:

__ Nós não temos ninguém no mudo, e precisamos de uma família. __ E continuou: Waikutakalãi, ó menina, você aceita? O que nós vamos fazer sozinhos aqui no mundo? Vamos ficar juntos?

A irmã pensou e decidiu que era melhor ficarem juntos. O tempo passou, e nasceu deles um menino, Irakisu, o sol. Essa criança trazia com ela um destino muito importante, mas os dois irmãos não sabiam disso.

Certa noite, quando tinha seis meses de idade, Irakisu acordou e sentou-se perto do fogo, voltado para a direção em que nasce o sol, e ficou sentado, bem quietinho.  O pai e a mãe dele imaginaram que ele logo voltaria a dormir, mas estavam enganados. Silenciosamente, Irakisu entrou em contato com o dia,e então começou a falar:

__ Irakisu, Irakisu, sol, sol. Alihituwa, alihituwa, vai sair, vai sair, vai sair o sol!

Assustados, os pais de Irakisu o levantaram e o pegaram no coloo pensando: “Será que vai amanhecer?” Ficaram em silêncio e começaram a ouvir o canto dos pássaros:  o sabiá, a siriema, o mutum, a perdiz, o nambu, o macuco, o jacu, a arara,o papagaio, e alguns gritos de outros animais.

Em seguida, começaram a passar urucum no corpo da criança, pois queriam que o amanhecer  e o anoitecer ficassem com uma cor avermelhada, que eles achavam muito bonita.

Alantisu, o dia, começou a clarear, clarear… e  nasceu o sol. Irakisu ficou ali sentado até o sol chegar no meio do céu __ era ele que levava o sol até lá. Quando o sol chegou ao meio do céu, os pais de Irakisu viraram o menino para o lado onde o sol se põe. A parte da tarde é kxûyxesu, o algodão que Irakisu acende e solta, como se fosse um balão. Quando o sol chega lá embaixo, ele se apaga, tudo escurece.

No dia seguinte, ele nasce outra vez. Irakisu já nasceu com o poder de separar o dia da noite. Foi assim que o tempo voltou a ser dividido, em partes iguais: metade dia, metade noite.

Excerto do livro “Irakisu, o menino criador” por  Renê Kithâulu. Editora Fundação Peirópolis. 2002.

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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