A moda… e a mulher inteligente
Ano a ano, variam as modas. Saias sobem, saias descem, saias armam, como abajures, ou se estreitam como malha de bailarina.
E as mulheres obedecem à moda. Decotes crescem ou minguam, cinturas se a largam ou se estreitam, penteados se complicam ou se desmancham, até a cor dos lábios, das unhas, dos cabelos, se modifica.
E as mulheres obedecem à moda.
Os saltos se afinam, engrossam, se curvam, deformam ou ajudam a figura. As fazendas brilham, tornam-se leves, com flores, com bordados, ou se puritanizam em cores escuras, em tecidos grosseiros.
As mulheres obedecem sempre. Todas as mulheres? Não. A mulher inteligente não é escrava dos caprichos dos costureiros ou dos fabricantes de cosméticos. Antes de adotar a última palavra da moda, ela estuda o efeito da mesma sobre o seu tipo. A mulher inteligente sabe que mais importante que parecer “chique” é parecer bonita.
Não quero dizer que ela ande fora de moda, use roupa ou penteados antiquados. Mas o que ela usa é o que lhe fica bem, ajuda a sua figura, realça a cor e o brilho de seus olhos e cabelos, a cor de sua pele, remoça-a e torna-a ainda mais interessante para os olhos masculinos.
Espero que minhas leitoras pertençam a esse tipo de mulher. Gostaria que todas essas “escravas da moda” que andam por aí, muitas vezes despertando o riso, pensassem um pouco antes de obedecer cegamente às ordens, nem sempre equilibradas, dos costureiros famosos, cujo interesse de despertar a atenção pela extravagância e pelo exagero parece crescer dia a dia.
Andem na moda, claro! Adotem penteados, pinturas, adereços modernos! Mas modernizem, antes de qualquer coisa, a sua mentalidade!
Clarice Lispector em Correio Feminino. Organização Maria Aparecida Nunes. Editora Rocco. 2006.