Mineração predatória

Mapa inédito indica epidemia de garimpo ilegal na Panamazônia

Mapa inédito indica epidemia de garimpo ilegal na Panamazônia

Direto do ISA
A partir de dados de seis países amazônicos, rede de organizações identifica 2.312 pontos de mineração predatória na maior floresta tropical do

O garimpo ilegal se espalha na Amazônia sem respeitar fronteiras. Um mapa inédito da Rede Amazônica de Socioambiental Georreferenciada (Raisg), lançado nesta segunda-feira (10/12) simultaneamente em seis países amazônicos, mostra a distribuição dessa atividade ilegal e seus impactos socioambientais na Amazônia boliviana, brasileira, colombiana, equatoriana, peruana e venezuelana. Para a Guiana, Guiana Francesa e Suriname não foi possível encontrar dados consistentes sobre o tema, embora a atividade garimpeira seja relevante nesses lugares.

É a primeira vez que dados e informações de seis países amazônicos sobre o garimpo ilegal são reunidos em uma base única de informação, oferecendo uma visão panamazônica da extensão do problema. Acesse o mapa aqui.

O mapa elaborado pela Raisg indica 2.312 pontos e 245 áreas de garimpo ou extração de minerais, como ouro, diamantes e coltan. Além disso, foram mapeados 30 rios afetados pela atividade ou por rotas para a entrada de máquinas, insumos e pela saída de minerais.

O mapa traz informações de diferentes fontes, num verdadeiro quebra-cabeças que reúne estudos publicados, informações de parceiros locais, notícias de imprensa e análises de imagens de satélite, e identifica as áreas protegidas – como Unidades de e Terras – no território amazônico afetadas pelo garimpo ilegal. “É um esforço inédito de compilação de dados para criar essa visão regional”, afirma Alícia Rolla, geógrafa no ISA.

Mineração predatória
Sobrevôo mostra áreas de garimpo ilegal na

 

O material foi organizado e disponibilizado em uma plataforma, que permite que o usuário filtre a informação e produza suas próprias análises. Cada ponto, além da fonte, traz informações sobre o mineral extraído, o método de exploração, a data e a presença de insumos contaminantes, sobretudo mercúrio.

Além do mapa, a Raisg, em parceria com o projeto Infoamazonia publica um storymap que expõe os dados presentes no mapa de maneira ilustrativa e interativa, trazendo outras fontes de informação complementares ao tema, como fotos, vídeos e infográficos. O produto ainda apresenta casos e histórias sobre a atividade ilegal e seus impactos em cada um dos seis países amazônicos analisados.

“A incidência de garimpo ilegal na Amazônia, especialmente em territórios indígenas e áreas naturais protegidas, tem crescido exponencialmente nos últimos anos com o aumento do preço do ouro. No entanto, é uma das pressões menos pesquisada, em relação ao para expansão da pecuária, por exemplo, devido também aos riscos associados ao seu mapeamento. Por isso, a Raisg decidiu incluí-la como uma das questões que necessitam de monitoramento contínuo, especialmente por seus impactos sociais e ambientais “, diz o coordenador geral da Rede, Beto Ricardo, do Instituto Socioambiental (ISA).

A Venezuela é a campeã de pontos de garimpo ilegal. Depois vem o Brasil, Equador e Peru. Na Colômbia e Bolívia, as unidades de análise foram os rios, razão pela qual não aparecem quantificados como pontos. Além dos danos ambientais produzidos pelo desmatamento e a abertura de crateras no solo, o mercúrio utilizado na extração do ouro contamina rios e e populações que têm o pescado como base de sua alimentação.

Mineração predatória
Garimpo ilegal no Parque Nacional Canaima, na Venezuela

 

De acordo com os dados da Raisg, de 649 áreas naturais protegidas, 55 têm pontos de garimpo ativos ou balsas dentro de seus limites. Há ainda um total de 41 áreas naturais protegidas que sofre danos indiretos, seja em áreas de amortecimento ou nas bordas.

As análises da Rede identificaram, entre 6.207 territórios indígenas, 78 que apresentam atividades garimpeiras em seu limite ou no entorno. Desses 78, a maioria (64) está localizada no Peru. Com relação às terras indígenas com garimpo ilegal dentro de seus limites, o Brasil lidera com 18 casos entre os 37 identificados. Em relação às atividades de balsas em rios nesses territórios, a Colômbia tem a maior incidência – 30 entre os 65 casos investigados.

A Raisg aponta que, para fazer frente ao problema, é necessária uma ação transfronteiriça, com a cooperação entre os vários países amazônicos. No caso brasileiro, a solução envolve a fiscalização e retirada dos garimpeiros de TIs e UCs, aliada à criação de alternativas econômicas para os e demais populações da região.

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ANOTE AÍ

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UMA REVISTA PRA CHAMAR DE NOSSA

Era novembro de 2014. Primeiro fim de semana. Plena campanha da Dilma. Fim de tarde na RPPN dele, a Linda Serra dos Topázios. Jaime e eu começamos a conversar sobre a falta que fazia termos acesso a um veículo independente e democrático de informação.

Resolvemos fundar o nosso. Um espaço não comercial, de resistência. Mais um trabalho de militância, voluntário, por suposto. Jaime propôs um jornal; eu, uma revista. O nome eu escolhi (ele queria Bacurau). Dividimos as tarefas. A capa ficou com ele, a linha editorial também.

Correr atrás da grana ficou por minha conta. A paleta de cores, depois de larga prosa, Jaime fechou questão – “nossas cores vão ser o vermelho e o amarelo, porque revista tem que ter cor de luta, cor vibrante” (eu queria verde-floresta). Na paz, acabei enfiando um branco.

Fizemos a primeira edição da Xapuri lá mesmo, na Reserva, em uma noite. Optamos por centrar na pauta socioambiental. Nossa primeira capa foi sobre os povos indígenas isolados do Acre: ‘Isolados, Bravos, Livres: Um Brasil Indígena por Conhecer”. Depois de tudo pronto, Jaime inventou de fazer uma outra boneca, “porque toda revista tem que ter número zero”.

Dessa vez finquei pé, ficamos com a capa indígena. Voltei pra Brasília com a boneca praticamente pronta e com a missão de dar um jeito de imprimir. Nos dias seguintes, o Jaime veio pra Formosa, pra convencer minha irmã Lúcia a revisar a revista, “de grátis”. Com a primeira revista impressa, a próxima tarefa foi montar o Conselho Editorial.

Jaime fez questão de visitar, explicar o projeto e convidar pessoalmente cada conselheiro e cada conselheira (até a doença agravar, nos seus últimos meses de vida, nunca abriu mão dessa tarefa). Daqui rumamos pra Goiânia, para convidar o arqueólogo Altair Sales Barbosa, nosso primeiro conselheiro. “O mais sabido de nóis,” segundo o Jaime.

Trilhamos uma linda jornada. Em 80 meses, Jaime fez questão de decidir, mensalmente, o tema da capa e, quase sempre, escrever ele mesmo. Às vezes, ligava pra falar da ótima ideia que teve, às vezes sumia e, no dia certo, lá vinha o texto pronto, impecável.

Na sexta-feira, 9 de julho, quando preparávamos a Xapuri 81, pela primeira vez em sete anos, ele me pediu para cuidar de tudo. Foi uma conversa triste, ele estava agoniado com os rumos da doença e com a tragédia que o Brasil enfrentava. Não falamos em morte, mas eu sabia que era o fim.

Hoje, cá estamos nós, sem as capas do Jaime, sem as pautas do Jaime, sem o linguajar do Jaime, sem o jaimês da Xapuri, mas na labuta, firmes na resistência. Mês sim, mês sim de novo, como você sonhava, Jaiminho, carcamos porva e, enfim, chegamos à nossa edição número 100. E, depois da Xapuri 100, como era desejo seu, a gente segue esperneando.

Fica tranquilo, camarada, que por aqui tá tudo direitim.

Zezé Weiss

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